segunda-feira, 5 de março de 2012


O Professor - Cap 26 ao 28

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Cap - 26

"O que aconteceu, minha querida?"

A resposta veio cheia de força e intensidade, bem no meio da bochecha esquerda.

"Eu não sou sua querida!"

O torpor tirara a fala de Arthur, que simplesmente olhara para ela, boquiaberto, cobrindo a parte atingida que ardia consideravelmente com a mão. Lua lhe apontou o dedo no meio do rosto, seu rosto estava inflado, corado e franzido. Ela estava uma fera.

Mas... Por quê?

"O que foi q..."

"O que foi que você fez?!" Ela gritou estrangulada, gesticulando forte. "Pergunte à sua amada Rayana Carvalho!"

"Quem?!"

Essa história fazia menos sentido cada vez mais.

"Não!" Ela berrou na cara dele, Arthur recuou "Não se faça de desentendido, Arthur!"

"Mas, do que é que você está falando, Lua?!"Ele berrou de volta, irritado por nem estar entendendo a situação e já estar sendo crucificado.

"Da sua viagem de negócios"Ela lhe cuspiu com sarcasmo carregado "É disso que estou falando!"


Lua caminhou até a secretária eletrônica e apertou o botão de mensagens, imediatamente após o bip a voz demasiadamente açucarada e enjoativa voltou a preencher o ar da sala.

"Oi Arthur, aqui é a Ray, Rayana Carvalho, você não se esqueceu de mim, não é? Bom, eu acho que não, afinal você repetiu tanto esse nome ontem, não foi moreno...?"

"O que é isso?" Arthur indagou confuso.

"Muito interessante o seu trabalho, Arthur. Realmente fascinante".
"Lua, eu não conheço essa mulher" Ele respondeu prontamente, encarando-a sério, tentando disfarçar a pequena felicidade que surgiu em seu peito ao notar que ela estava com ciúme dele.

"Claro, por isso ela te ligou pra agradecer as maravilhosas horas de prazer que vocês compartilharam ontem" Lua rebateu surpresa por usar a ironia tão bem mesmo imersa em tanto ódio. "Faz todo o sentido do mundo, porque eu não pensei nisso antes?!"


"Lua, olha pra mim" Arthur tentou se aproximar, mesmo sentindo que dessa vez, seus beijos e seu charme não conseguiriam resolver a situação, não no estado em que ela estava "Eu não conheço essa Rayana, eu nunca nem ouvi o nome dela. Eu entendo o que deve parecer, mas você não precisa sentir ciúme."

"Não é ciúme!" - A frase rasgou a garganta de Lua no exato momento em que a mensagem chegava ao fim, ela gritara, tentando sobrepor sua voz ao som metálico e pegajoso que saia da secretária "Eu me sinto enganada, você quebrou o contrato!"

"Quê? Você não está dizendo nada com nada!"

"Ah, você não se lembra?" Ela andava de um lado para o outro na frente dele, alucinada, secando os olhos o tempo inteiro com uma mão, tentando domar os cabelos com a outra, esquivando-se dele e ele a observava, tão surpreso que não conseguia reagir "Você disse, quando lhe fiz essa proposta idiota, você disse que aceitaria, se pudesse me fazer exigências... Ainda não se lembra? Eu me lembro de cada pequeno detalhe! Você me disse, abre aspas, nestes dois meses será só minha, assim como eu serei só seu. Compartilharemos disso juntos, fecha aspas. Lembra disso, Arthur? Como você pôde romper com o nosso contrato?!"

Então era isso, Arthur pensou consigo mesmo, sentindo os ombros pesarem, essa era a confirmação de que Lua enxergava todo o tempo que passaram juntos apenas como parte do plano, nada mais do que um negócio, como tantos outros com que lidava. E agora estava furiosa, não por ciúme, claro que não, apenas porque fora passada para trás, ou pensava que fora.


"Mas, eu já devia saber, não era? Você tentou me avisar, nesse mesmo dia, um pouco depois de ter dito isso, você me avisou..."

"Eu lhe avisei que eu não fazia jus à fama que me atribuíam. Eu lhe avisei que gostaria de assumir um compromisso com você!" – Frisou a última parte, na esperança de que ela entendesse que ele era absolutamente louco por ela e que no bolso dianteiro do seu casaco já havia uma caixinha aveludada, guardando uma jóia especialmente para ela, que combinaria tão bem com sua pele, com seu corpo delicado...

"Obrigada, mas acho que já aprendi o suficiente, professor" Lua respondeu com frieza, se aprumou, jogando os cabelos para trás, apanhou sua bolsa e caminhou em direção a saída do apartamento.

"Lua!" Ele a chamou, alterado, segurando-a pelo braço "Não fale assim comigo."

"Solte-me" Ela vociferou mais séria do que ele jamais a vira. Havia tanta decisão em seus olhos, tanta ira, que ela poderia, se assim o quisesse, matá-lo com o olhar.

"Lua, sente-se, vamos conversar, por favor" Ele pediu mais baixo, mesmo que as palavras dela o ferissem cada vez mais, o irritassem cada vez mais, ele tentava, a todo custo, não ser grosseiro, não passar dos limites com ela.

"Não sou uma das suas amiguinhas, Arthur" Ela lhe rebateu, as palavras se arrastavam através dos dentes cerrados "Não pode e não fará o que quiser comigo. Sou diferente delas."


"Eu isei que é!" Em agonia, ele estava em agonia. Ele sabia de tudo isso, entendera tudo isso, por isso queria casar-se com ela, ter filhos com ela. Ela era diferente, ela era única. Era sua de uma maneira que ninguém mais fora. Assim como ele fora dela.

"Então não me trate como uma delas. Solte o meu braço agora mesmo."

"Onde é que você vai, caso eu a solte?"

"Procurarei Pedro, é claro" Ela lhe respondeu com frieza, não sabia por que dissera isso, talvez realmente o procurasse, talvez não. Queria apenas mostrar pra ele que ela também não estava assim, tão escassa de opções. Ela também tinha seus admiradores.

"Vai procurar o Pedrita?" Sem se conter de raiva, Arthur apertou a pressão dos dedos no braço dela, trêmulo.

"É, sabe. Estou mesmo com fome..." Ela sorriu cinicamente, ignorando o aperto no braço.

"Você não pode. Você é minha, Lua e sabe disso" Ele balbuciou ilogicamente. Falando alto o que seu cérebro repetia atordoado.

"Nosso contrato não é mais válido, Arthur. Você acabou com ele."

"Quer dizer que você vai atrás dele, pronta pra mostrar seus novos truques?" Ele cuspiu as palavras, irritado.


"É esse era o plano, não era?" Ela rebateu como se não ficasse abalada com as palavras dele.

"É, foi sempre o seu plano, nunca mudou?"

"Nunca" Ela mentiu descaradamente, Afinal, era advogada.

"Nem por um segundo?"

"Jamais me ocorreu que terminasse de outra forma" Ela endossou, uma lágrima escorreu por seu rosto, desmentindo-a.

"Eu nunca ouvi falar de Rayana nenhuma" Ele lhe respondeu, sem mais nada para dizer.

"Então onde é que você estava nesses três dias, se não estava dando aulas particulares de reforço?"

Ele a encarou, indignado. Estava sendo acusado de algo que não fizera e ela acabara de lhe jogar na cara que nunca se envolvera com ele e que nunca se envolveria. Não de forma emocional.

"Não importa mais"

Ele soltou o braço dela com violência e se afastou, cerrando os punhos, impedindo a si mesmo de agarrá-la e tomar seus lábios a força, vontade essa que ameaçava corroer seu corpo.

"Nada disso importa mais."

Lua o encara nos olhos, ele corresponde, talvez tenham dito muito mais naquele olhar do que na discussão, mas nenhum dos dois comentou nada, tudo o que ela disse, depois de subir a alça da bolsa mais para cima no ombro, foi:

"Concordo com você. Não importa. Não mais."


E o último som que ele ouviu foi da porta batendo atrás dela, antes de se deixar afundar no sofá, o bolso dianteiro do casaco parecia muito mais pesado agora, como se a aliança fosse feita de chumbo, puxando-o para baixo.
Como tudo tinha chegado aquela situação? Era o que Arthur se perguntava constantemente. Como de repente, aquele conto perfeito havia se transformado num futuro sem perspectivas?

Havia um mês que Lua fechara a porta de sua casa, saindo de sua vida, afirmando que iria correr para os braços de outro homem. Um mês.

Desde então, Arthur não sabia o que era ter um minuto de paz. Era um homem maduro e experiente, um homem que nunca tivera qualquer problema com mulheres, um homem que nunca pensara em compromisso.

Nem namoros longos ele teve. Na verdade foram dois namoricos de três meses cada, quando ainda era um adolescente cheio de espinhas e fantasias
Agora ali estava ele, sentado em frente a sua mesa, com sete relatórios para analisar e pareciam estar escritos em árabe. Tudo por que há um mês ele não a via.

Na primeira semana ficou louco. Não queria dar o braço a torcer, afinal ela nem havia dado chances para ele se defender, simplesmente o julgou e foi embora gritando na sua cara que tudo tinha sido um mero acordo.

Um acordo? Acordo uma ova, não parecia um acordo quando ela gritava e tremia nos braços dele a noite inteira, ou suplicava para ser possuída.


Ele estava com o ego ferido demais para procurá-la, mas ainda assim seguiu os passos dela, nas sombras. Chay o ajudou, dizendo para ele o que Lua estava fazendo. Até onde soube, ela passara as duas primeiras semanas trancadas em seu quarto, sem atender ninguém e muito menos sair.

E agora ele sabia que o maldito Pedro estava fora da cidade numa conferencia. Isto era a única coisa que lhe mantinha totalmente são, pois sempre que pensava em Lua nos braços de Pedro, seus piores instintos afloravam e muito lhe custava permanecer onde estava em vez de agir como um homem das cavernas e ir buscá-la pelos cabelos depois de assassinar Pedro brutalmente.

Fora acusado injustamente e isto estava lhe corroendo. Não fazia a menor idéia de quem fosse Rayana Carvalho, mas sabia que era armação. Tanto quanto sabia que o autor dela era Pedro. O golpe era baixo e mesquinho, assim como ele.

Pegou o telefone e começou a discar o numero dela, mas antes de terminar desligou o telefone com um baque surdo e sentou esfregando as mãos no rosto com impaciência.

Vinha sendo assim todos os dias desde que romperam, dez, quinze, até mesmo vinte vezes ao dia. Ele ficava ouvindo as mensagens de texto que ela lhe mandara, algumas sutis, outras mais sensuais. Olhava as fotos que tinham tirado juntos, estava completamente enfeitiçado.

Em vez de ligar para ela, ligou para o irmão Lucas, tenente da Scotland Yard.

“Lucas, é Arthur. Alguma novidade?”

“Não Arthur, nada ainda. Eu ainda não consegui autorização para fazer uma busca. Mas tenho certeza de que o promotor autorizará hoje”.

-“Mas eu prestei uma queixa.”

-“Eu sei Arthur, mas acontece que a situação é inusitada. Tive que enfrentar muita gozação aqui. O pessoal não acredita que você deu queixa de trote, ainda mais um trote sensual como aquele. O promotor acredita que você dormiu com a garota e agora quer tirar o corpo fora”.

“Mas que inferno, eu não conheço esta mulher.”

“Eu sei Arthur, mas não é o suficiente. Tenha paciência.”

“Não posso ir até Lua antes que eu tenha uma prova de que não conheço esta mulher Lucas.”

“ Eu sei Arthur, mas não posso fazer mais do que estou fazendo.”

“Pode sim. Pode conseguir isso num piscar de olhos por baixo dos panos. – ele disse mais irritado”.

“Não é assim que eu trabalho Arthur e sabe disso.”

“ Mas Lucas...”

“Ouça sei que está apaixonado e respeito isso. Mas em primeiro lugar, sua garota deveria ter acreditado em você.”

“Não é tão simples assim...”

“Não estou dizendo que é, apenas estou lhe pedindo calma. Estou fazendo isso por que acredito em você, mas tenho de ouvir coisas que você nem imagina. Chegaram a dizer que meu irmão é gay e está ofendido com uma ligação de uma mulher. Nem todo mundo foi criado como nós, acreditando no amor e na fidelidade Arthur. E se fizermos tudo dentro da lei e você estiver mesmo certo, posso conseguir um processo para Pedro.”

Esta fora a melhor parte da conversa.

“ Não deixe de me avisar”. – Arthur disse derrotado.
“Será a primeira coisa que farei. Agora acalme-se.”

“Certo, Lucas. Obrigado. Tchau.”

Ele desligou.

Quanto tempo mais teria que esperar?

Depois da briga, com raiva, ele quis dizer a si mesmo que era apenas por que ele ainda a desejava, mas logo admitira estar mentindo. Sentia falta do corpo dela, sim. Ardia por ela todas as noites. Lembrar de tudo o que compartilharam lhe tirava dos eixos e das orbitas, mas não era só isso.

Sentia falta da voz dela, do sorriso, até mesmo das reclamações. Daquele jeito decidido e rígido que ela tinha. Sentia falta do rubor que surgia em sua face quando o enlevo de paixão se dissipava e ela percebia o que haviam feito.

Sentia falta dela. Estava apaixonado por ela.

Não. Era mais que paixão, era amor. Amava Lua Blanco e por isso, aquela maldita caixinha de veludo que carregava um solitário caríssimo de diamantes ainda estava em cima de seu criado-mudo. Como se ela fosse aparecer a qualquer instante e cair em seus braços.

Um mês inteiro sem nem ao menos ouvi-la. Ele não estava mais agüentando.
Para Lua não foi muito diferente. Ela enclausurou-se em sua casa e afogou-se no trabalho. Não conversava com ninguém.

A dor lhe corroia.

Cap - 27

Ela tentou dizer a si mesma que devia esperar por isso, eles não tinham um compromisso. Não era por que ela tinha sido idiota em se apaixonar que ele faria o mesmo. Não deveria ter se magoado tanto.

Sentiu uma pontada no estomago, vinha sentindo-se muito mal na ultima semana, mas a chegada da menstruação sempre lhe causava dores e enjôos. Além de uma irritação maior nos dois primeiros dias. Como haviam acabado de chegar suas regras, ela estava mais irritada e arredia naquele dia em questão.

Maldito Arthur, por que tinha que ter terminado desta forma. Será que ele não podia ter esperado mais alguns dias?
De que adiantaria ele esperar? Iria sofrer de qualquer modo
Uma lagrima rolou de sua face e ela baixou a cabeça soluçando.

Amava-o, mas a dor de ser trocada era algo cruel. “Olhos lindos” foi a pior parte quando ouviu a mulher se referir ao seu apelido. Ao nome carinhosos que até então era só dela.

Algo de si havia se perdido naquilo tudo.

Seu telefone tocou e ela atendeu.

“Sim Marie?”

“Lua, quero lembrá-la do baile de caridade, hoje a noite. Não pode faltar”.

- Ah não – ela gemeu desgostosa.

- Lua, o Grupo Maldonado estará lá, você não pode perder isso.

Ela fez uma careta.

- Certo, não esquecerei.

- Ah Lua...Pedro ligou...de novo.

- Que droga – ela disse baixo

- Ele está insistindo muito, o que digo pra ele?


- Diga que eu o mandei pro inferno e que pare de me ligar ou vou me queixar com o John.

Marie sorriu perceptivelmente do outro lado da linha.

- Certo.

- Obrigada Marie... Ah Marie... Vou sair mais cedo hoje ok? Transfira tudo o que eu tiver para segunda feira.

- Sim.

- Obrigada.

Contrariada ela pegou a bolsa. Teria que comprar um vestido. Seria muito bom se pudesse comprar uma alma nova.

Arthur andava de um lado para o outro sem saber o que fazer. Acabara de ouvir ma mensagem de Mel na secretária eletrônica.

“Acho que gostaria de saber que Lua vai ao baile de caridade do grupo Maldonado esta noite. E que Pedro estará lá. Um dos dois tem que abrir Mão do orgulho Arthur”.

A mensagem era curta e direta.

Ele franziu o cenho. Lua estava magoada por acreditar que ele a traíra. Ele estava magoado pelo mesmo motivo. Ela acreditara na armação. Um dos dois teria que ceder, mas por que teria que ser ele e não ela? era inocente não era?

Andou até o quarto em passadas largas e duras e abriu o closet com violência. Viu um smoking que comprara em madeira enquanto estivera lá com ela.

Com ela. Uma semana incrível ao lado dela.

Tirou a peça do cabide e jogou em cima da cama. Rangeu os dentes com raiva. Não iria a lugar nenhum, e se ela quisesse se jogar nos braços do pervertido do Pedro esta noite que o fizesse.

Furioso, ele saiu do quarto batendo a porta.

As horas se passaram e ele continuava sentado lá, olhando o relógio. Imaginando a que horas Pedro chegaria. Quanto tempo levaria para seduzi-la, envolve-la. Pra onde a levaria depois da festa. A casa dele? A casa dela?


Sabia que antes de dele Pedro compartilhara aquela cama com ela, mas agora era diferente. Ele não podia aceitar que nem Pedro, nem qualquer outro tocasse sua Lua de novo. Deitasse ao lado dela como ele fazia. Aninhasse-a contra seu corpo, sussurrasse palavras doces, observasse o lindo cabelo castanho espalhado no travesseiro.

Não podia.

O ódio que sentia ao sequer imaginar as mãos brancas e mal feitas de Pedro sobre ela era maior que a frustração do ego ferido.

Em dois meses ele transformara Lua em sua. Sua mulher. E isso não mudaria.

Ele levantou decidido colocando o orgulho no canto mais escondido da mente e rumou para o quarto.

Iria ao baile. Acabaria com Pedro, arrastaria Lua, mataria os dois. Mas ela não seria dele de novo.


O grupo Maldonado era um dos maiores grupos de advocacia do mundo. Estavam habilitando um empresarial de luxo em Londres e contratando jovens advogados promissores.

Lua almejava ser parte deste grupo.

Por isso, e só por isso iria aquela festa. Sorriria para as câmeras e fingiria estar tudo bem. O fundador do Grupo era uma lenda. Conseguira firmar-se como um dos maiores nomes do direito com apenas 36 anos e era reconhecido por ser um homem inteiramente da lei. Implacável dentro e fora dos tribunais.

Mas Diego Maldonado não compareceria a festa de sua empresa. Sua esposa Roberta estava prestes a dar a Luz e sua reputação como pai de família era ainda maior do que a de Advogado. Em seu lugar estava o irreverente e igualmente brilhante Tomás Maldonado, seu irmão mais novo. Este seguia os passos do irmão e estava indo muito bem. Tomás estava liderando as contratações do grupo e como estaria pessoalmente no baile, seria uma chance e tanto para Lua.


Ela passeava pelo salão no meio de pessoas importantíssimas. Deveria estar empolgada. Em menos de meia hora, seu chefe Vicente Pires, já a tinha apresentado aos maiores figurões da Advocacia mundial, entre eles o próprio Tomás Maldonado, que garantiu estar impressionado com o talento dela e prometeu levar seu nome até Diego, afim de contratá-la.

Lua praticamente garantira o contrato que mudaria sua vida, seu nome e sua carreira, mas isto não estava importando. A verdade é que não conseguia tirar Arthur da cabeça. Sempre que se lembrava dele sentia-se quente. Era impossível esquecer tudo o que havia desfrutado em sua companhia. Com Arthur conhecera o real significado da palavra prazer.


Aprendeu tudo sobre o próprio corpo e como alimentá-lo. Neste instante enrubesceu lembrando-se do dia em que se tocara ao telefone e em como Arthur a fizera repetir os movimentos na sua frente numa das vezes em que fizeram amor. Não havia limites com ele. Tudo era extremo.

As mãos de Arthur a levavam a loucura, os beijos dele tiravam sua sanidade. Ela estava desesperada. Desesperada de paixão, de desejo, de saudade, de amor.

Chegara várias vezes a quase desistir do orgulho e perdoá-lo. E aceitá-lo do jeito que fosse, com ou sem amantes. Mas seus princípios não aceitavam tal humilhação. Mas de qualquer forma ela estava dilacerada.

A taca de champagne nas mãos estava intocada. Tudo fazia lembrar aquele maldito moreno e sua arte de amar. Lembrou-se do cassino e do champagne no corpo enquanto ele sugava cada ponto sensível do seu corpo.


Seu estomago se revirou e ela sentiu uma pontada de cólica. Maldita menstruação!

Lua quase derrubou a taça de champagne quando sentiu uma mão em seu ombro. Virou-se rapidamente para dar de cara com Pedro.

- Está linda – ele disse sem lhe dar chance de dizer qualquer coisa.

Ela suspirou e agradeceu baixo.

- Gostaria de dançar comigo Lua?

Se tudo isto estivesse acontecendo três meses antes, sim ela adoraria. Pedro estava muito bonito em seu terno italiano. Mas agora ela não sentia a menor vontade de ficar perto dele.


Seu estomago revirou em uma cólica violenta e ela sentiu um bolo ser formado em sua garganta. Não bebera, mas sentia-se enjoada. O perfume Francês que Pedro usava era totalmente detestável as suas narinas.

Lua nunca imaginou que uma dança pudesse durar tanto tempo. Tudo o que queria era soltar-se daquele homem e ir embora para casa chorar sua dor sozinha.
Maldito Arthur que não saía da sua cabeça nem do seu coração.

Podia ouvir a voz rouca e sarcástica, podia sentir seu cheiro. Era como se ele estivesse ali, bem perto dela. Estava definitivamente ficando louca. Ou não?

- Tire as mãos de cima dela antes que perca os dedos.

A voz rouca de Arthur realmente ecoara naquele salão. De maneira seca e ameaçadora, mas era ele.


Cap - 28

Vestido num imponente terno preto, feito sobre medida, moldado perfeitamente o corpo generoso que ele tinha. Os cabelos morenos tinham um tom de castanho mais escuro, pois estavam molhados e penteados para trás.
Perfeição, era a palavra que ela usaria para a imagem que viu. Se não estivesse tonta demais com a situação.

Sem chamar a atenção dos convidados Pedro parou a dança e virou-se para ela, ainda segurando Lua pela cintura. Ela estava atordoada demais para se soltar.

- Acho que tem problema de audição Pedro, então vou repetir. Tire as patas sujas d cima da minha mulher, ou eu irei arrancar seus dedos um a um com meus próprios dentes. E talvez eu queira levar seus dentes como bônus também.

Pedro tremeu. Aprendera de maneira bastante dolorosa que Arthur não era homem de promessas vãs, mas ainda assim, sentindo-se seguro pela multidão que os cercava, ele empinou o queixo.

- Pedi a dama educadamente que me cedesse uma dança e ela aceitou, não estou fazendo nada de errado.

Arthur aproximou-se mais e Lua sentiu as pernas fraquejarem sob o olhar assassino que ele tinha.

- Você ter nascido foi o grande erro Pedro, agora quanto a sua educação, estou pouco me lixando para como você pediu e como ela aceitou. Quando a mulher é minha a permissão quem dá sou eu. E eu não me lembro de ter lhe deixado tocar na minha mulher. Agora vou repetir uma ultima vez. Largue-a.

- Você pode ser bruto Aguiar, mas não teria coragem de...

Pedro não terminou a frase, pois neste momento sua boca estava tentando abafar um gemido de dor causado pela torção que Arthur deu em sua mão. O moreno havia puxado a mão que Pedro segurava a cintura de Lua e torcido para trás.

- Vai pagar para ver?

Ele disse ainda induzindo a dor no outro. Depois de alguns segundos ele o soltou.

- Três segundos para você sair. Um...

Pedro hesitou, mas apenas um segundo.
- Acho melhor você levar a sério o que eu estou dizendo. – O semblante de Arthur era sombrio. Assustador. Lua temeu pela integridade física de Pedro e pela cena que tudo aquilo poderia causar.

- Acha que eu vou obedecer ordens suas? Até onde eu sei, Lua não tem nada com você.

Pedro cometeu o erro de por a mão na cintura dela de novo.

O sangue de Arthur gelou e ele perdeu o resto de noção que tinha. Com um gesto rápido, pôs-se atrás de Pedro e tirou a mão dele da cintura da morena com violência, dobrando-a nas costas do próprio homem. Pedro grunhiu de dor, reprimindo a muito custo um grito.

- Arthur não... por favor. – Lua pediu quando viu o rosto do outro contorcer numa careta.

Mas Arthur não estava escutando.

- Eu vou recomeçar a contar e quando eu terminar é melhor que você esteja bem longe daqui. Longe de mim e longe dela, principalmente dela, você me entendeu?

Ele arqueou o braço e Pedro dobrou-se para a frente rangendo os dentes.
- Arthur...pare...pare já com isso.

Lua gaguejou. Queria se mostrar forte, mas estava tão assustada quanto Pedro.

- Não...Não machuque ele.

A voz dela saiu mais firme e controlada embora um leve tremor pudesse ser notado. Aquele pedido simples, de proteção a Pedro foi o suficiente para aflorar o instinto que ele ainda conseguia manter dentro de si. Em vez de atender o pedido dela, ele forçou mais o braço do outro.

- Você tem amor aos seus membros Pedrita? A todos eles?

Lua fez menção de se aproximar para tentar ajudar o outro, mas um olhar gélido de Arthur foi o suficiente para detê-la.

- Proteger seu amigo não vai ajudar Lua, pense bem, vai piorar a situação dele.
Ela se deteve onde estava.

- Ouça meu maior desejo agora é arrancar cada membro do seu maldito corpo, e eu o farei se você ficar mais dois segundos na minha frente, portanto eu vou contar e você vai sumir, do contrario, eu vou sumir com você. Entendeu?

Pedro gemeu e Lua fez uma careta.

Arthur machucou mais o braço dele.

- Entendeu?

- Por favor...Arthur – Lua pediu. – Deixe-o ir...por favor.

Ele a encarou. Por mais louco de ciúmes que estivesse não conseguia negar nada aquela mulher. Mesmo que ela estivesse pisando no seu ego com botas de ferro.

- Está vendo isso seu desgraçado? Você está? Salvo por uma mulher. Por que se não fosse por isso, provavelmente você estaria com esta cabeça enorme debaixo do meu sapato. Agora vamos lá. Tem três segundo para desaparecer. Um.

Arthur começou a recontar, mas antes de largar o braço de Pedro ele ainda o machucou mais uma vez.

- Dois.

- Você é um troglodita Aguiar. – ele disse afastando-se amedrontado.

Os olhos de Arthur caíram sobre Lua e eles digladiaram com um jogo de olhares que substituíam as palavras. Durou pouco, mas foi intenso. Lua quebrou o silencio.

- Você não tem o direito de...

- Tenho todos os direitos. – ele a cortou – Venha comigo.

Ele tentou pegara mão dela, mas ela puxou.
Ele estreitou os olhos. Normalmente era um cavalheiro, mas não estava em sua sã consciência.

- Você tem duas escolhas. Vem comigo por bem e sem chamar a atenção. Ou vem carregada no meu ombro dando um show e tanto.

Ela tremeu e ele começou a andar desafiador. Ela achou melhor segui-lo.

Arthur levou Lua até um banheiro nos fundos do salão e tratou de pendurar a placa de interditado no local. Puxou-a para dentro sem a menor delicadeza.

Iria arrepender-se de cada atitude machista e intimidadora que estava tendo agora, mas só depois. Agora não conseguia pensar. Tinha ido aquela festa na intenção de encontrar Lua e convencê-la a ouvi-lo, mas ao chegar lá e deparar-se com as mãos de Pedro em volta da cintura da sua mulher despertou o animal primitivo e machista dentro de si.

Ele trancou a porta do banheiro quase com violência e depois a olhou.

- O que está fazendo Arthur, por que me trouxe...

Arthur a interrompeu.

Simplesmente colou os lábios aos dela, fechando os braços em torno da cintura dela, com os braços presos entre os dele sem que ela pudesse reagir. Foi um beijo tenso. De dor e desespero, mas ela correspondeu como se estivesse alucinada.

Quando o beijo terminou Lua estava tonta, ofegante e furiosa.

- O que está fazendo? Acha mesmo que pode me arrastar até aqui deste jeito.

Mas ele estava tão furioso quanto ela.

- Sim. Não só acho como fiz.

- Seu...seu...você é um bruto. Um homem das cavernas Arthur Aguiar.


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