
Capitulo 06
Lua fala:
- Você o quê? – eu exclamei, chacoalhando Sophia pelos ombros, que estava quieta desde o começo da conversa.
- Isso mesmo que você ouviu. – Mel disse, deixando os ombros caírem.
- Mas não foi culpa dela! – Michele veio em sua defesa. – Ela estava bêbada!
- Mas como foi que isso aconteceu? – perguntei, soltando os seus ombros, porque pensei que se ficasse mais tempo os segurando poderia quebrá-los.
Sophia olhou para mim com os olhos tristes e por um momento eu não tive mais raiva dela. Mas só por um momento. Porque depois eu me lembrei do que ela tinha feito e a raiva voltou com tudo.
- Eu estava com o Chay. Nós estávamos ficando. – ela começou, falando lentamente. – E eu estava bebendo um pouco demais. Então ele disse que precisava ir ao banheiro, e eu fiquei esperando na mesa... Daí, do nada, apareceu a porra do John e começou a me encher o saco para dançar e ficou beijando meu pescoço, e eu não tinha forças para empurrá-lo, e o Chay não chegava, e...
- Tá. – eu a cortei. – E o que isso tem a ver com o que você disse pra ele?
- Posso terminar? – ela perguntou, parecendo irritada. Assenti com a cabeça e ela continuou a falar. – Então. Aí eu pedi para ele parar e ele parou. Mas então ficou me enchendo o saco, perguntando porque nós estávamos andando com os losers. No começo eu não respondi nada, mas aí ele voltou a beijar meu pescoço, e o Chay não chegava, e eu comecei a ficar nervosa e...
- E...? – perguntei.
- E as palavras jorraram da minha boca! – ela sussurrou, desanimada.
- Que palavras, exatamente? – eu perguntei, sentindo meu pulso se fechar.
- “Nós estamos andando com os losers porque eu descobri que eles são os donos do Conte Seu Babado e agora eles tem que fazer tudo que a gente mandar.” – ela repetiu exatamente o que tinha dito para ele.
Thur fala:
O dia começou relativamente bem.
Mas preste atenção. Relativamente.
Acordei no meu quarto com a cabeça enfiada no travesseiro, e um fio de baba descia pela minha boca. Usava só boxers e o cheiro de Lua ainda estava em minha pele.
Nossa. A cada dia mais gay.
Levantei-me e fui ao quarto de Harry, porque ouvi de lá uma música alta. A porra do Harry sempre acordava duas horas antes de todo mundo.
- Tá feliz, dude? – perguntei, entrando no quarto dele de qualquer jeito e me jogando na cama. – A noite foi boa, é?
- Foi, dude. – Harry disse, saindo de frente do laptop e se jogando na cama ao meu lado. – Eu quase peguei a Michele.
- Por que quase? – perguntei, estranhando. Harry sempre fora o mais pegador de todos e sempre o mais rápido. Enrolar mais de uma semana para pegar Michele estava sendo estranho.
- Porque... Ah, dude, sei lá. Eu meio que não quero pegar ela de qualquer jeito em qualquer lugar como eu sempre fiz com as outras... – Harry desabafou. Eu olhei para ele com a sobrancelha arqueada mas depois olhei para frente.
O amor fazia essas coisas com as pessoas.
Eu ia falar alguma coisa, mas fui interrompido por Micael e Chay que entraram no quarto e se jogaram na cama com nós dois.
- Nossa, todo mundo madrugou hoje? – Harry perguntou, rindo da situação engraçada e gay em que estávamos.
- É o amor, Harry. – Chay disse, jogando a cabeça no travesseiro e encarando o teto. Micael olhou torto para mim, e eu olhei para Harry e Chay que brisavam no teto.
O amor fazia essas coisas com as pessoas.
- E aí, o que nós vamos fazer hoje? – Micael perguntou, cutucando Chay e Harry, que saíram do transe da parede.
- Sei lá, eu tava pensando em ir no lasershoot. – eu sugeri, pensando em como seria bom pegar Lua no escuro do labirinto.
- Boa! – Chay exclamou, já sacando o celular do bolso. – Posso chamar as meninas?
- Pode. – eu disse, tentando parecer indiferente. Nenhum deles sabia que eu estava a fim de Lua.
A fim dela?
Apaixonado por ela!
- Alô?... Oi, linda!... Tudo, e com você?... Que bom. Linda, nós vamos no lasershoot e os meninos querem que as meninas vão, e eu quero pegar você no escuro e... Hahahaha, ok, a gente se pega no escurinho! Hahahaha... Vocês vão?... Quem tá aí?... Oi, Lua, Mel e Michele!... VAMOS NO LASERSHOOT? Hahahaha... Ok, combinado então!... Vai se foder você, Blanco!... Eu não tenho culpa se a Sophia se apaixonou por mim!... Quem disse que ela tá apaixonada? Ah, nem precisa, só de ver os olhinhos dela eu já sei... Hahahaha. Ok, combinado! Às 13h em frente ao lasershoot. Beijo, Luinha! Deixa eu falar com minha lindinha e... Ah, oi, Sô!... Não, era só pra te falar tchau mesmo. Tchau... Hahahaha. Ok. Beijo na boca. Tchau, linda! Até 13h!.. Também já tô com saudades! Tchau!
Chay desligou o celular e olhou para nós, que estávamos com a boca aberta e segurando animalmente a risada. Ele só mostrou o dedo do meio e saiu pela porta.
- Vai, saiam do meu quarto, é muita testosterona junta! – Harry reclamou, nos empurrando pela porta. – E eu quero tomar banho.
Fui até meu quarto e tomei um banho demorado, tentando me livrar do cheiro da Lua. Não que eu realmente quisesse me livrar do cheiro dela. Mas se ela me encontrasse novamente com o mesmo cheiro ia pensar que eu era um maluco que não tomava banho.
Não que eu não fosse maluco.
Quando já era 12:20h, nós estávamos prontos e cheirosos no carro de Harry, nos dirigindo ao shopping.
Lasershoot, aí vamos nós!
Chegamos lá e nos sentamos em um banco de madeira, esperando as meninas chegarem. Ficamos conversando e dando em cima das meninas que passavam.
Estávamos apaixonados, mas não mortos.
- Oi, meninos! – Mel deu o seu famoso piado animado, chegando perto do banco em que estávamos. Algumas meninas da oitava série estavam conversando com a gente, mas quando viram as garotas mais lindas/desejadas/malvadas da escola chegando, foram embora de mansinho.
- O que vocês estavam fazendo com essas meninas? – Lua perguntou, com certa raiva na voz. Sorri por dentro.
- E o que você tem a ver com isso? – eu perguntei, lançando um olhar pervertido para ela. Ela retribuiu meu olhar, como se entendesse.
- Cala boca, Aguiar. – ela respondeu, dando um semi sorriso para mim.
- Ok, as bibas vão parar de brigar e entrar no lasershoot ou nem? – Micael perguntou, se levantando e indo em direção à salinha preta do lasershoot. Mel se levantou com um pulinho e foi atrás dele, conversando animadamente sobre alguma coisa da festa do dia anterior. Sophia e Chay já estavam brincando de desentupidor de pias no banco e Harry conversava baixinho com Michele.
- Hã... Vamos? – perguntei para Lua, que sorriu pervertida.
- Claro, Aguiar. – ela falou em voz alta, mas aí abaixou a voz e disse, no meu ouvido: - Como se você não estivesse louco para me beijar no escuro.
Olhei para ela e sorri com a boca fechada.
- Eu não vou pagar nada pra ninguém! – eu falei em voz alta, mas aí abaixei a voz e sussurrei de volta: - Como se você não estivesse louca para retribuir meus beijos no escuro.
- Hey, Aguiar, espera! – Harry exclamou, vindo atrás de mim e de Lua, com Michele ao lado. Chay e Sophia vinham atrás, abraçados.
Estávamos muito bem juntos, e eu não me sentia feliz daquele jeito há muito tempo.
É, pena que durou pouco.
Lua fala:
Até de noite, o dia foi calmo e... divertido.
Sophia manteve a boca fechada – pelo menos uma vez – durante todo o dia, e ficou pegando Chay durante todo o lasershoot.
Michele e Harry ficaram se matando com as arminhas e davam risada de tudo. Mel e Micael ficavam correndo pelo labirinto, ela de cavalinho nele, e tomavam bronca toda hora da mulher mal-humorada que mantinha “ordem” lá.
Tentei evitar Thur e seus lindos olhos e cabelos. Mas foi por pouco tempo.
Estava correndo por um corredor comprido e estreito, e parei, vendo que já tinha despistado Harry, que queria porque queria me acertar.
Encostei-me na parede e respirei aliviada. Eu realmente tinha asma.
Fiquei ali, só respirando e ouvindo os outros gritarem, quando os lindos cabelos de Thur surgiram do outro lado do corredor, e começaram a vir em minha direção.
É, até ali era o máximo que eu podia agüentar.
- Hey, o que você tem? – ele perguntou, ficando de frente para mim e me prensando na parede. Eu respirei fundo.
Aliás, eu sempre tinha que respirar fundo quando estava perto dele.
- Nada, Aguiar, por quê? - eu perguntei, virando meu rosto. Ele sorriu.
- Hum, então quer dizer que você me usou e hoje já jogou fora? - ele perguntou, se encostando mais em mim. Minhas pernas se encaixaram nas dele e eu joguei minha cabeça para trás. Ele beijou meu pescoço e eu cerrei meus dentes.
- Não, Aguiar, você é lixo reciclável. - eu me ouvi dizendo, então levantei a cabeça dele com as duas mãos e beijei sua boca.
Ele pegou minha cintura com força – não como um animal, mas com... força – e eu meio que levantei do chão e fiquei encaixada nele. Se eu não estivesse de calça jeans provavelmente quem passasse por ali iria achar que nós estávamos fazendo alguma coisa feia.
Eu passava as mãos pelo seu rosto e cabelo ferozmente e ele me beijava com vontade, deixando escapar alguns suspiros. De vez em quando parávamos para respirar e beijar o pescoço um do outro.
- Não, Micael! SAI DAQUI! - ouvi Mel gritar e me separei imediatamente de Thur, mas nossas blusas se enroscaram, então ainda estávamos relativamente próximos.
Relativamente? Minha boca estava a centímetros da dele.
Tentei puxar e ele também, mas na confusão de zíperes, respirações ofegantes e gritos, acabamos nos aproximando mais ainda. E os gritos de Mel se aproximavam.
- Ai porra! - eu exclamei, quase rasgando minha blusa novinha. - Aguiar, e agora?
- Não seria mais fácil... - ele disse, espantosamente calmo. Levantei meus olhos nos deles, tentando entender o motivo da calma. Ele sorriu torto para mim. - Contar para eles?
- Contar o quê para eles? - perguntei, chacoalhando a cabeça freneticamente. Pela altura dos gritos de Mel, ela estava quase virando o corredor. - Contar o que, Aguiar? Porra, diz logo que ainda precisamos nos desenroscar e...
Tudo meio que aconteceu ao mesmo tempo. Na mesma hora que eu disse aquilo, Mel virou no corredor, eu puxei a blusa com força. Micael veio pelo outro lado, e eu me afastei com um pulo de Thur, que murmurou:
- Que nós estamos juntos.
Thur fala:
É. Eu sei. Não devia ter falado aquilo. Eu sei, eu sei.
Mas o que eu poderia fazer? Estávamos grudados um no outro, Mel estava virando o corredor e Lua estava mais linda do que nunca de calça jeans, Nike e uma blusa com touca toda puída.
Depois que eu disse aquilo, Lua abriu a boca num semi-sorri, semi-espanto, e eu fechei os olhos, aliviado por Mel ter trombado em nós dois e caído no chão, porque Micael viu a cena e se jogou no chão, rindo sem parar.
Eu não estava com ânimo nenhum de rir, mas era melhor do que ficar analisando o rosto sem expressões de Lua, tentando descobrir o que ela tinha achado do que eu tinha dito, então simplesmente comecei a rir sem parar de Micael e Mel e eles começaram a atirar em mim e eu neles.
Olhei para o lado e ela ainda estava inexpressiva, olhando para o fim do corredor, onde Harry e Michele vinham pulando feito cabritas.
Então veio o arrependimento.
Sabe como é. Eu tinha acabado de revelar para a menina que eu gostava que eu achava que nós estávamos juntos e ela não tinha dito nada para confirmar.
O arrependimento viria mais cedo ou mais tarde.
Quando Micael finalmente levantou Mel, eu tentei desesperadamente me livrar da situação. Não foi preciso.
- Gente, eu já cansei de lasershoot! - Sophia piou, vindo pelo corredor de mãos dadas com Chay. - Vamos para algum lugar mais claro?
- Por quê? Cansou de se amassar com Chay no escurinho? - Michele brincou, e Sophia deu um tapa no seu ombro.
- É, vamos sair daqui. Eu não agüento mais ficar no mesmo lugar que Luinha. - eu disse, tentando parecer normal e implicante como sempre. Olhei para o lado, mas ela mantinha a cabeça baixa, fitando os pés.
Realmente eu não devia ter dito aquilo.
Lua fala:
É claro que ele estava brincando. Quando Thur iria parar de brincar comigo e falar sério?
Nunca.
Nós fomos o caminho inteiro até a casa de Harry em silêncio, sentados ao lado um do outro. Sentia ele perto de mim mas longe ao mesmo tempo. Um frio percorreu minha espinha.
Eu tinha tentando de tudo para entendê-lo. Ou mesmo para ficar longe dele. Mas nada que eu tinha feito estava dando certo.
Talvez eu devesse simplesmente ignorá-lo, como fiz todos aqueles anos. Mesmo que por dentro eu estivesse sofrendo, como sofri todos os anos em vê-lo na escola e fingir odiá-lo.
Porque, veja bem, eu já tinha desistido de ignorar que eu sempre amei Thur. Era a mais pura verdade.
- Onde você está indo, Judd? - Michele perguntou do banco da frente. Desviei os olhos dos meus tênis sujos e olhei em volta. Harry tinha passado da casa de Michele e ia em direção a dele.
- Eu vou levar o pessoal em casa primeiro. - então disse mais baixo, com a intenção de só Michele ouvir, falhando, porque eu ouvi tudo. - Quero te levar para um lugar.
Sorri por dentro e por fora.
Nem tudo estava perdido.
Ou estava. Quando Sophia contasse o que tinha feito. O que ela faria mais tarde aquela noite.
Estremeci.
Se o clima já estava estranho entre eu e Thur, imagina depois que ela contasse.
Merda.
Harry parou o carro na frente de sua casa e Micael pulou do carro, com Mel ao seu lado. Sophia desceu de mãos dadas com Chay e Thur desceu, me fitando.
- Hã, Harry? - chamei ele, sem mover um músculo do bando de couro branco. - Se importa de me levar para casa?
Eu não estava com o mínimo humor de ficar comendo pizza, falando merda e vendo Thur maravilhosamente perfeito na minha frente.
Não naquela noite.
- Tudo bem. - ele disse, já dando partida no carro. Mantive a cabeça baixa, mas antes de virar a esquina, olhei novamente para a casa dos meninos.
Thur estava parado no quintal, com as mãos no bolso da jeans dois números maiores que o que ele deveria usar, olhando para o céu.
Thur fala:
Entrei em casa desanimado, sentindo o cheiro do perfume da Lua nos meus ombros e cabelos. Minha roupa pesava no corpo e minha cabeça doía.
Mas não era só a cabeça que doía.
- Acho que eu vou dormir. - eu avisei o pessoal, subindo pela escada. As meninas me olharam com curiosidade e os meninos só deram de ombros.Chay estava louco para ficar sozinho com Sophia e Micael estava louco para finalmente ficar com Mel, o que seria meio difícil, devido a falta de atenção que Mel parecia ter. - Não quero estar parecendo um zumbi amanhã na escola.
- Ok, dude. - Micael disse.
- Boa noite, Thur! - as meninas falaram em couro.
- Boa noite. - repliquei e subi o resto das escadas. Entrei no meu quarto e fechei a porta. Tirei toda a roupa e liguei o aquecedor. Eu estava morrendo de frio, mas queria dormir de boxers para tentar esquecer Lua. Não ia tomar banho, estava cansado demais para isso.
Joguei-me na cama e adormeci imediatamente.
Não ouvi o que estava acontecendo lá embaixo, mas quando fiquei sabendo no outro dia, descobri porque meu coração estava tão apertado e batia freneticamente no quarto.
E não era só o meu.
Lua fala:
Passei a noite inteira me revirando na cama. Não conseguia dormir sabendo que Sophia estava na casa dos meninos e, possivelmente, contando a burrada que tinha feito a Chay.
Mas, acima de tudo, não conseguia dormir porque a visão de Thur falando o que tinha dito mais cedo não me saía da cabeça.
Quando finalmente o cansaço venceu os meus pensamentos contínuos, relaxei os músculos na cama, mas tive que os contrair alguns minutos depois, quando ouvi o despertador tocar.
Levantei-me imediatamente, cansada de tentar pensar em outra coisa. Precisava ir para a escola para saber o que tinha acontecido.
Quando coloquei meus Adidas brancos no pátio da escola, fui recebida por Michele, que voava em minha direção, com o fichário rosa colado ao corpo.
- Cadê os meninos? Você viu o Harry? Ah, não importa... Quer saber o que aconteceu ontem? - ela me abordou, os olhos brilhando e a respiração ofegante.
Eu não estava com humor de ouvi-la contar da melhor noite que tivera na vida. Toda aquela coisa de amor e pegação só ia me deixar mais deprimida.
Mas eu não podia deixá-la na mão. Porque, mesmo com todos os meus problemas, ela era minha amiga.
Então, ao invés de mandá-la tomar no cu e sair andando, respirei fundo, coloquei meu melhor sorriso no rosto e exclamei:
- Conta tudo!
- Então! - ela guinchou, me puxando pelo braço e sentando-se em um banco de madeira. - Harry deixou você em casa e depois me levou para o mirante. Ele não queria me dizer para onde iria me levar, mas eu nem liguei. A noite estava gostosa e o céu estava lindo, cheio de estrelas.
- E aí? - perguntei, como toda boa amiga faria.
Olhei em volta, varrendo o pátio com os olhos. Não achei quem procurava, então voltei minha atenção à história detalhada de Michele.
- Chegando lá, ele abaixou o capô do carro e me chamou para dançar. Eu não queria, porque eu meio que sou um desastre pra dançar lento, mas ele colocou All You Need Is Love e eu não agüentei! E ele dança tão bem que nem se importou com meus pisões e...
- O Harry dança bem? - perguntei, realmente curiosa. Aquela era nova.
- Pior que dança! - Michele gargalhou, tão surpresa como eu. Depois recomeçou. - E enquanto nós dançávamos, ele dizia coisas lindas no meu ouvido, e eu me arrepiava toda vez que ele chegava perto de mim.
- Tipo? - perguntei, agora interessada na conversa. Se não poderia ser feliz com o cara que eu gostava, pelo menos poderia ficar feliz pelas minhas amigas.
- Ah... - ela corou. - Tipo “Eu nunca fiquei tão feliz perto de alguém” e “Eu poderia ficar assim para sempre”.
- Ah! - exclamei, dando um cutucão nela para provocá-la. - Que lindo! E aí?
- Aí, quando a música acabou, nós voltamos para o carro e ficamos olhando as estrelas. Ele escolheu uma e deu meu nome, e eu escolhi outra, ao lado da minha, e coloquei o nome dele. - ela dizia, e seus olhos brilhavam. - Então, ele se aproximou e...
- E...? - perguntei, já sabendo o que ela iria dizer.
- Ele me beijou! - ela piou, e depois abriu o maior sorriso que eu já tinha visto ela dar.
- Ahhh! - agora eu a empurrava e bagunçava seus cabelos bem penteados, enquanto ela gargalhava.
- Nunca imaginei minhas amigas todas apaixonadinhas pelos losers! - eu disse, rindo.
- Quem disse que eu tô apaixonada? - ela perguntou, levantando a sobrancelha de um jeito engraçado.
- Seu sorriso diz tudo, baby. - eu respondi, piscando para ela.
- Olha lá, as meninas! - ela exclamou, saltando do banco e caminhando firmemente para as escadas do colégio.
Meu coração deu um salto no peito e minhas mãos começaram a suar. Levantei-me e dei de cara com Sophia, e meu coração deu outro salto ao ver que seu rosto estava vermelho e inchado.
- Sô, o que foi que aconte... - eu ia dizendo, mas foi interrompida por ela, que me abraçou e começou a soluçar no meu ombro. Eu passei as mãos pelos seus cabelos que mais pareciam um ninho enquanto Mel explicava o que tinha acontecido para Michele, que ouvia tudo com os olhos apertados, preocupada.
- E-ele... Terminou comigo! - Sophia desabou a chorar, se apertando no meu abraço.
- Não fica assim, Sô! - eu disse, afagando suas costas. - Tudo vai dar certo, ele vai te perdoar!
- Não, não vai! - ela exclamou. - Eu nunca mais vou ser feliz de novo! E eu estraguei a felicidade de vocês! Vocês também perderam seus losers!
- Nós não nos importamos com isso, Sophia. - eu murmurei, com a voz firme. Não me preocupei em ocultar o fato de que tinha me incluído na história.
- Hum, meninas. - Mel nos chamou. - Desculpe interromper, mas os Mc... Losers estão subindo as escadas.
Sophia se separou imediatamente de mim e passou as mangas do suéter de cashmere nos olhos, secando as lágrimas.
Chay vinha na frente, com a cabeça baixa e um sorriso triste no rosto. Era a cara de Chay. Mesmo triste estava sorrindo. Micael estava ao seu lado, olhando com o canto dos olhos para Chay, provavelmente preocupado com a reação do menino ao ver Sophia. Mas acho que Chay estava mais centrado do que... Bem, do que a própria Sophia, que lutava para segurar as lágrimas.
Atrás dos dois, vinha Harry, que tentava esconder o sorriso bobo ao olhar para Michele. Ela corou e desviou os olhos, com uma expressão vamos-fingir-que-nada-aconteceu-para-não-magoar-nossos-amigos-e-eu-te-pego-na-saída. E ao lado de Harry, Thur andava com as mãos no bolso, exatamente como eu o tinha visto no outro dia, olhando para cima.
Nós nos juntamos mais e tentamos olhar para outro lado, mas de um jeito ou de outro, nossos olhos se voltavam para os quatro meninos que subiam as escadas. Exatamente como todas as outras meninas do colégio.
Harry, Thur, Micael e Chay passaram por nós.
Do mesmo jeito que passavam por todas as outras meninas.
Thur diz:
Eu não achei que ignorá-las iria ser tão difícil. Mas, dude, foi pior do que eu pensei. Ver Lua ali, parada, ao lado de Sophia – que realmente parecia arrasada, mas não mais que Chay – e não poder me explicar, dizer que era verdade o que eu quis dizer no outro dia, abraçá-la e mostrar para todo mundo que ela era minha e só minha, foi muito foda.
- É só passar reto, dude. - Micael incentivou Chay, que estava com um péssimo humor, meio pálido. - Ela não te levou a sério e merece isso.
- Eu sabia, desde o começo... - ele murmurava, chutando o chão, parecendo uma criança mimada. - Ai, meu Deus, por que ela tem que ser tão hot? - ele perguntou, finalmente passando pelas meninas, que estavam unidas perto de um banco.
- Todas elas são. - Harry disse, sem tirar os olhos das pernas de Michele, que estavam a mostra em uma saia xadrez.
- Ânimo, Chay, hoje é um novo dia! - eu disse exageradamente, fazendo ele dar um semi sorriso.
A situação estava pior do que eu pensava.
As três primeiras aulas se arrastaram, até que finalmente o sinal tocou e eu dei um pulo da cadeira, me lembrando de onde estava. Harry já estava parado ao meu lado e conversava com uma de suas fiéis fãs. Olhei para ele malicioso e saí da sala sozinho. Chay e Micael estavam na diretoria por quebrar o lixo da sala.
Tão previsível.
Andei pelos corredores, parando para cumprimentar alguns amigos e amigas. Encontrei uma das meninas que era apaixonada por mim e meu humor melhorou um pouco.
Saindo do emaranhado de pessoas no corredor, fui até a biblioteca, sem antes esbarrar em John.
- E aí, veado! - ele exclamou, me dando um empurrão. - Algum babado hoje?
- Vai se foder, John. - eu disse, peitando ele. Nós éramos da mesma altura, mas ele definitivamente era mais forte.
- Eu vou me foder e foder sua garota. - ele disse, apontando para Lua, que passava com Sophia atrás de nós. Fechei meus olhos e respirei fundo. - O que foi, ficou bravo? Então ela é mesmo sua garota? Não sei como alguém pode ficar com um loser como você... Mas Lua sempre fora meio burra, não é?
Então, com um lampejo de força e raiva, eu virei um soco no seu nariz perfeito. Ele caiu para trás, se apoiando nas mãos.
À essa altura, todos em volta estavam parados em um círculo e cochichavam. Lua estava lá, mas ao invés de fofocar, me olhava com preocupação.
- Vocês viram isso?! - John exclamou, se levantando e sorrindo por cima do sangue que jorrava do seu nariz. - O nosso Thur aqui ficou bravo porque eu falei da sua amada Lua!
Os cochichos foram mais intensos e eu senti a mesma raiva que sentira alguns segundos antes me dominar. Respirei fundo mais uma vez.
- Cala boca, John. - sibilei, tentando não gritar aquilo.
- Cala boca, John! - ele repetiu, fazendo uma voz afeminada. - Queria saber qual seria sua reação se eu contasse a todos seus amigos que você...
- John! - Lua exclamou, cortando o que John ia falar. Todos viraram seus rostos para ela, que entrava no meio da roda com os cabelos longos jogados de qualquer jeito na cintura e uma beleza estonteante. Olhei para ela aliviado, mas ela me ignorou, e andou em direção a ele, com passos firmes. Finalmente me olhou, mas não como eu queria. Ela só me mediu de cima a baixo e disse para John, com sarcasmo na voz: - Sério, porque você ainda perde seu tempo com... - me olhou novamente, com nojo. - Ele?
John sorriu, o sangue parando de escorrer pela boca. Ela parou ao seu lado e foi envolvida por seus braços, sorrindo com desdém, mas seus olhos ainda mantinham o nojo. E desconfiei que não era por mim.
- Isso não vai ficar assim, Aguiar. - ele disse, me olhando com ódio, os braços apertando Lua. Segurei-me para não avançar nele novamente. Alguma coisa me dizia que se fizesse isso, o esforço de Lua seria em vão.
John se virou levando Lua pelo corredor. Eu os segui com os olhos e me virei, entrando na biblioteca como se nada tivesse acontecido.
Entrei no computador, digitei minha senha e certifiquei-me que não havia ninguém por perto. Entrei no nosso blog, onde a foto que Chay havia postado há uns dois atrás, de umas meninas do terceiro ano vomitando na rua ainda estava lá. Fechei a página com ódio, como se aquilo fosse ajudar em alguma coisa.
Aquele blog imbecil foi o que tinha me juntado a Lua, mas estava sendo o pivô da separação.
De repente, algo me atingiu a cabeça.
“Foda-se o blog!” eu pensei, caminhando rapidamente até o pátio. “Foda-se minha reputação. Se eu tiver Lua, nada disso importa!”.
Saí e coloquei as mãos no rosto num reflexo involuntário. O Sol brilhava alto e eu varri o pátio, em busca de Lua. Vi-a sentada sozinha, perto de uma árvore afastada das pessoas.
Era agora ou nunca.
Lua fala:
Quando finalmente consegui despistar John, não tinha mais ânimo para nada. Estava me sentindo mal por saber que Thur havia brigado com ele por mim, e mesmo assim eu não tinha coragem de dizer tudo o que sentia por ele.
Sentei-me na minha árvore preferida, onde eu sempre ia quando as coisas ficavam ruins.
Sophia provavelmente estava no banheiro chorando, Michele estava com Harry escondidos em algum lugar pela escola para tentar esconder o impossível. Ou talvez para não magoar Chay e Sophia. Mel estava conversando com algumas meninas do terceiro ano e Micael jogava futebol com os meninos do primeiro. Os dois fingiam se ignorar, mas as rápidas olhadas de um para o outro entregavam tudo.
Todos estavam, de algum jeito, escondendo o sentimento.
É, nossas vidas haviam mudado tanto em tão pouco tempo.
Antes de alguns meses, nós provavelmente estaríamos sentadas juntas, rindo dos meninos que corriam atrás de nós e xingando os McLosers e todos os outros do colégio.
E veja só onde estávamos agora.
Todos se escondendo de algum jeito. E eu sentada na árvore da tristeza pensando no ser mais desprezível e irresistível do mundo.
- Hey. - ouvi alguém dizer atrás de mim. Virei-me e me senti meio tonta ao dar de cara com Thur, que já se sentava ao meu lado. Olhei em volta, procurando John, mas provavelmente ele estava com alguma menina, longe do nosso alcance. - Não se preocupe, se John aparecer vai receber outra surra. - ele disse, adivinhando meus pensamentos.
- Ótimo, se eu não tiver que abraçá-lo novamente. - eu disse, puxando as magas do meu cardigan preto e escondendo minhas unhas ruídas. Unhas nunca foram meu forte.
- Pode deixar, isso não vai acontecer. - ele sorriu, se apoiando nos cotovelos e olhando para o Sol. Repeti seu gesto e encostei meu ombro no seu. - Escuta, Lua, sobre hoje...
- Não precisa se explicar. - eu disse, jogando meus cabelos para trás, que caíram em uma cascata nas minha costas. O Sol bateu nas minhas clavículas e eu me senti bem novamente. Não só pelo Sol, mas por ter Thur ao meu lado.
- Mas eu quero. - ele resmungou, ficando sério. Olhei para ele e assenti com a cabeça, para ele continuar. - Sobre ontem. Sobre hoje.
- O que tem ontem?
- Quando eu disse que estávamos juntos eu... - ele parou, envergonhado. - Eu realmente pensava que estávamos juntos.
- Então porque fez daquilo uma piada logo depois? - perguntei, olhando para ele com o canto dos olhos. - Porque eu não quero me enganar em relação a você!
- Porque eu pensei que não fosse o que você queria. - ele disse, olhando para os tênis.
- É o que eu mais quero. - me ouvi dizendo. Ele sorriu, os cabelos caindo nos olhos. - E você?
- Eu nunca quis tanto algo na vida. - ele respondeu. E depois de demorar o olhar nos meus olhos, me deixando tonta, ele continuou: - E sobre hoje.
- Sobre hoje. - eu repeti. - Sobre o que quer falar? A burrada de Sô ou a briga?
- Lua, aquele blog não muda em nada. Não me importo se a escola inteira ficar sabendo. A única coisa que eu quero é te fazer feliz e ser feliz ao seu lado! Mas Chay... - ele disse, abaixando a voz. - Chay está realmente magoado.
- Sophia está realmente arrependida. - eu disse, triste por minha amiga.
- Chay e Micael são os mais cabeças duras. Vai ser difícil de perdoar. - ele disse, se perdendo nas pessoas que andavam pelo pátio, com o olhar vago. - Sempre pensei que eu fosse o mais orgulhoso. Mas acho que nenhum orgulho do mundo vai me manter longe de você.
- Thur? - eu sussurrei. Ele se virou e me encarou. Eu perguntei: - Você realmente brigou com John por mim?
Ele demorou um pouco a responder, me analisando. Mas enfim, respondeu:
- Sim.
Sorri e voltei a puxar as magas do meu cardigan, envergonhada.
- Lua, será que você ainda não entendeu? - ele perguntou, depois de um longo silêncio. - Eu te amo! Eu... - seu rosto corou e ele olhou novamente para o céu. - Eu sempre te amei.
Sentei-me ereta e olhei em seus olhos, que novamente me encaravam, embora o rosto ainda estivesse muito vermelho. Seus olhos estavam tristes, porém decididos.
Eu poderia ter feito milhões de coisas. Poderia ter dito para ele ir embora. Ou talvez dizer que ele estava enganado. Quem sabe ficar em silêncio até que ele fosse embora e me deixasse sozinha?
Mas a única coisa que eu consegui fazer – porque foi o que me pareceu correto – foi sorrir e dizer, quase sussurrando:
- Eu também te amo.
Ele sorriu e aproximou seu rosto do meu. Eu fechei meus olhos e respirei seu hálito doce por alguns momentos. Então senti seus lábios sobre os meus. Durou alguns segundos, e ele os retirou. Abri meus olhos, curiosa.
- Não quero fazer isso na frente de todo mundo. - ele disse, apontando com a cabeça para o pátio. Ninguém nos olhava, preocupados com a própria vida, mas tenho certeza que se ficássemos ali nos beijando por muito tempo alguém iria perceber e seria tarde demais. - E não quero deixar Chay pior do que ele já está.
- Eu não quero magoar Sophia. - eu murmurei. - E não quero que todos se metam na nossa vida.
- Eu não quero ficar longe de você. - ele disse, roçando seu nariz no meu, mas logo se separando. - Eu quero você pra sempre.
- Eu vou ser sua pra sempre. - eu respondi, sentindo seu cheiro.
Às vezes a vida podia ser boa.
- Você o quê? – eu exclamei, chacoalhando Sophia pelos ombros, que estava quieta desde o começo da conversa.
- Isso mesmo que você ouviu. – Mel disse, deixando os ombros caírem.
- Mas não foi culpa dela! – Michele veio em sua defesa. – Ela estava bêbada!
- Mas como foi que isso aconteceu? – perguntei, soltando os seus ombros, porque pensei que se ficasse mais tempo os segurando poderia quebrá-los.
Sophia olhou para mim com os olhos tristes e por um momento eu não tive mais raiva dela. Mas só por um momento. Porque depois eu me lembrei do que ela tinha feito e a raiva voltou com tudo.
- Eu estava com o Chay. Nós estávamos ficando. – ela começou, falando lentamente. – E eu estava bebendo um pouco demais. Então ele disse que precisava ir ao banheiro, e eu fiquei esperando na mesa... Daí, do nada, apareceu a porra do John e começou a me encher o saco para dançar e ficou beijando meu pescoço, e eu não tinha forças para empurrá-lo, e o Chay não chegava, e...
- Tá. – eu a cortei. – E o que isso tem a ver com o que você disse pra ele?
- Posso terminar? – ela perguntou, parecendo irritada. Assenti com a cabeça e ela continuou a falar. – Então. Aí eu pedi para ele parar e ele parou. Mas então ficou me enchendo o saco, perguntando porque nós estávamos andando com os losers. No começo eu não respondi nada, mas aí ele voltou a beijar meu pescoço, e o Chay não chegava, e eu comecei a ficar nervosa e...
- E...? – perguntei.
- E as palavras jorraram da minha boca! – ela sussurrou, desanimada.
- Que palavras, exatamente? – eu perguntei, sentindo meu pulso se fechar.
- “Nós estamos andando com os losers porque eu descobri que eles são os donos do Conte Seu Babado e agora eles tem que fazer tudo que a gente mandar.” – ela repetiu exatamente o que tinha dito para ele.
Thur fala:
O dia começou relativamente bem.
Mas preste atenção. Relativamente.
Acordei no meu quarto com a cabeça enfiada no travesseiro, e um fio de baba descia pela minha boca. Usava só boxers e o cheiro de Lua ainda estava em minha pele.
Nossa. A cada dia mais gay.
Levantei-me e fui ao quarto de Harry, porque ouvi de lá uma música alta. A porra do Harry sempre acordava duas horas antes de todo mundo.
- Tá feliz, dude? – perguntei, entrando no quarto dele de qualquer jeito e me jogando na cama. – A noite foi boa, é?
- Foi, dude. – Harry disse, saindo de frente do laptop e se jogando na cama ao meu lado. – Eu quase peguei a Michele.
- Por que quase? – perguntei, estranhando. Harry sempre fora o mais pegador de todos e sempre o mais rápido. Enrolar mais de uma semana para pegar Michele estava sendo estranho.
- Porque... Ah, dude, sei lá. Eu meio que não quero pegar ela de qualquer jeito em qualquer lugar como eu sempre fiz com as outras... – Harry desabafou. Eu olhei para ele com a sobrancelha arqueada mas depois olhei para frente.
O amor fazia essas coisas com as pessoas.
Eu ia falar alguma coisa, mas fui interrompido por Micael e Chay que entraram no quarto e se jogaram na cama com nós dois.
- Nossa, todo mundo madrugou hoje? – Harry perguntou, rindo da situação engraçada e gay em que estávamos.
- É o amor, Harry. – Chay disse, jogando a cabeça no travesseiro e encarando o teto. Micael olhou torto para mim, e eu olhei para Harry e Chay que brisavam no teto.
O amor fazia essas coisas com as pessoas.
- E aí, o que nós vamos fazer hoje? – Micael perguntou, cutucando Chay e Harry, que saíram do transe da parede.
- Sei lá, eu tava pensando em ir no lasershoot. – eu sugeri, pensando em como seria bom pegar Lua no escuro do labirinto.
- Boa! – Chay exclamou, já sacando o celular do bolso. – Posso chamar as meninas?
- Pode. – eu disse, tentando parecer indiferente. Nenhum deles sabia que eu estava a fim de Lua.
A fim dela?
Apaixonado por ela!
- Alô?... Oi, linda!... Tudo, e com você?... Que bom. Linda, nós vamos no lasershoot e os meninos querem que as meninas vão, e eu quero pegar você no escuro e... Hahahaha, ok, a gente se pega no escurinho! Hahahaha... Vocês vão?... Quem tá aí?... Oi, Lua, Mel e Michele!... VAMOS NO LASERSHOOT? Hahahaha... Ok, combinado então!... Vai se foder você, Blanco!... Eu não tenho culpa se a Sophia se apaixonou por mim!... Quem disse que ela tá apaixonada? Ah, nem precisa, só de ver os olhinhos dela eu já sei... Hahahaha. Ok, combinado! Às 13h em frente ao lasershoot. Beijo, Luinha! Deixa eu falar com minha lindinha e... Ah, oi, Sô!... Não, era só pra te falar tchau mesmo. Tchau... Hahahaha. Ok. Beijo na boca. Tchau, linda! Até 13h!.. Também já tô com saudades! Tchau!
Chay desligou o celular e olhou para nós, que estávamos com a boca aberta e segurando animalmente a risada. Ele só mostrou o dedo do meio e saiu pela porta.
- Vai, saiam do meu quarto, é muita testosterona junta! – Harry reclamou, nos empurrando pela porta. – E eu quero tomar banho.
Fui até meu quarto e tomei um banho demorado, tentando me livrar do cheiro da Lua. Não que eu realmente quisesse me livrar do cheiro dela. Mas se ela me encontrasse novamente com o mesmo cheiro ia pensar que eu era um maluco que não tomava banho.
Não que eu não fosse maluco.
Quando já era 12:20h, nós estávamos prontos e cheirosos no carro de Harry, nos dirigindo ao shopping.
Lasershoot, aí vamos nós!
Chegamos lá e nos sentamos em um banco de madeira, esperando as meninas chegarem. Ficamos conversando e dando em cima das meninas que passavam.
Estávamos apaixonados, mas não mortos.
- Oi, meninos! – Mel deu o seu famoso piado animado, chegando perto do banco em que estávamos. Algumas meninas da oitava série estavam conversando com a gente, mas quando viram as garotas mais lindas/desejadas/malvadas da escola chegando, foram embora de mansinho.
- O que vocês estavam fazendo com essas meninas? – Lua perguntou, com certa raiva na voz. Sorri por dentro.
- E o que você tem a ver com isso? – eu perguntei, lançando um olhar pervertido para ela. Ela retribuiu meu olhar, como se entendesse.
- Cala boca, Aguiar. – ela respondeu, dando um semi sorriso para mim.
- Ok, as bibas vão parar de brigar e entrar no lasershoot ou nem? – Micael perguntou, se levantando e indo em direção à salinha preta do lasershoot. Mel se levantou com um pulinho e foi atrás dele, conversando animadamente sobre alguma coisa da festa do dia anterior. Sophia e Chay já estavam brincando de desentupidor de pias no banco e Harry conversava baixinho com Michele.
- Hã... Vamos? – perguntei para Lua, que sorriu pervertida.
- Claro, Aguiar. – ela falou em voz alta, mas aí abaixou a voz e disse, no meu ouvido: - Como se você não estivesse louco para me beijar no escuro.
Olhei para ela e sorri com a boca fechada.
- Eu não vou pagar nada pra ninguém! – eu falei em voz alta, mas aí abaixei a voz e sussurrei de volta: - Como se você não estivesse louca para retribuir meus beijos no escuro.
- Hey, Aguiar, espera! – Harry exclamou, vindo atrás de mim e de Lua, com Michele ao lado. Chay e Sophia vinham atrás, abraçados.
Estávamos muito bem juntos, e eu não me sentia feliz daquele jeito há muito tempo.
É, pena que durou pouco.
Lua fala:
Até de noite, o dia foi calmo e... divertido.
Sophia manteve a boca fechada – pelo menos uma vez – durante todo o dia, e ficou pegando Chay durante todo o lasershoot.
Michele e Harry ficaram se matando com as arminhas e davam risada de tudo. Mel e Micael ficavam correndo pelo labirinto, ela de cavalinho nele, e tomavam bronca toda hora da mulher mal-humorada que mantinha “ordem” lá.
Tentei evitar Thur e seus lindos olhos e cabelos. Mas foi por pouco tempo.
Estava correndo por um corredor comprido e estreito, e parei, vendo que já tinha despistado Harry, que queria porque queria me acertar.
Encostei-me na parede e respirei aliviada. Eu realmente tinha asma.
Fiquei ali, só respirando e ouvindo os outros gritarem, quando os lindos cabelos de Thur surgiram do outro lado do corredor, e começaram a vir em minha direção.
É, até ali era o máximo que eu podia agüentar.
- Hey, o que você tem? – ele perguntou, ficando de frente para mim e me prensando na parede. Eu respirei fundo.
Aliás, eu sempre tinha que respirar fundo quando estava perto dele.
- Nada, Aguiar, por quê? - eu perguntei, virando meu rosto. Ele sorriu.
- Hum, então quer dizer que você me usou e hoje já jogou fora? - ele perguntou, se encostando mais em mim. Minhas pernas se encaixaram nas dele e eu joguei minha cabeça para trás. Ele beijou meu pescoço e eu cerrei meus dentes.
- Não, Aguiar, você é lixo reciclável. - eu me ouvi dizendo, então levantei a cabeça dele com as duas mãos e beijei sua boca.
Ele pegou minha cintura com força – não como um animal, mas com... força – e eu meio que levantei do chão e fiquei encaixada nele. Se eu não estivesse de calça jeans provavelmente quem passasse por ali iria achar que nós estávamos fazendo alguma coisa feia.
Eu passava as mãos pelo seu rosto e cabelo ferozmente e ele me beijava com vontade, deixando escapar alguns suspiros. De vez em quando parávamos para respirar e beijar o pescoço um do outro.
- Não, Micael! SAI DAQUI! - ouvi Mel gritar e me separei imediatamente de Thur, mas nossas blusas se enroscaram, então ainda estávamos relativamente próximos.
Relativamente? Minha boca estava a centímetros da dele.
Tentei puxar e ele também, mas na confusão de zíperes, respirações ofegantes e gritos, acabamos nos aproximando mais ainda. E os gritos de Mel se aproximavam.
- Ai porra! - eu exclamei, quase rasgando minha blusa novinha. - Aguiar, e agora?
- Não seria mais fácil... - ele disse, espantosamente calmo. Levantei meus olhos nos deles, tentando entender o motivo da calma. Ele sorriu torto para mim. - Contar para eles?
- Contar o quê para eles? - perguntei, chacoalhando a cabeça freneticamente. Pela altura dos gritos de Mel, ela estava quase virando o corredor. - Contar o que, Aguiar? Porra, diz logo que ainda precisamos nos desenroscar e...
Tudo meio que aconteceu ao mesmo tempo. Na mesma hora que eu disse aquilo, Mel virou no corredor, eu puxei a blusa com força. Micael veio pelo outro lado, e eu me afastei com um pulo de Thur, que murmurou:
- Que nós estamos juntos.
Thur fala:
É. Eu sei. Não devia ter falado aquilo. Eu sei, eu sei.
Mas o que eu poderia fazer? Estávamos grudados um no outro, Mel estava virando o corredor e Lua estava mais linda do que nunca de calça jeans, Nike e uma blusa com touca toda puída.
Depois que eu disse aquilo, Lua abriu a boca num semi-sorri, semi-espanto, e eu fechei os olhos, aliviado por Mel ter trombado em nós dois e caído no chão, porque Micael viu a cena e se jogou no chão, rindo sem parar.
Eu não estava com ânimo nenhum de rir, mas era melhor do que ficar analisando o rosto sem expressões de Lua, tentando descobrir o que ela tinha achado do que eu tinha dito, então simplesmente comecei a rir sem parar de Micael e Mel e eles começaram a atirar em mim e eu neles.
Olhei para o lado e ela ainda estava inexpressiva, olhando para o fim do corredor, onde Harry e Michele vinham pulando feito cabritas.
Então veio o arrependimento.
Sabe como é. Eu tinha acabado de revelar para a menina que eu gostava que eu achava que nós estávamos juntos e ela não tinha dito nada para confirmar.
O arrependimento viria mais cedo ou mais tarde.
Quando Micael finalmente levantou Mel, eu tentei desesperadamente me livrar da situação. Não foi preciso.
- Gente, eu já cansei de lasershoot! - Sophia piou, vindo pelo corredor de mãos dadas com Chay. - Vamos para algum lugar mais claro?
- Por quê? Cansou de se amassar com Chay no escurinho? - Michele brincou, e Sophia deu um tapa no seu ombro.
- É, vamos sair daqui. Eu não agüento mais ficar no mesmo lugar que Luinha. - eu disse, tentando parecer normal e implicante como sempre. Olhei para o lado, mas ela mantinha a cabeça baixa, fitando os pés.
Realmente eu não devia ter dito aquilo.
Lua fala:
É claro que ele estava brincando. Quando Thur iria parar de brincar comigo e falar sério?
Nunca.
Nós fomos o caminho inteiro até a casa de Harry em silêncio, sentados ao lado um do outro. Sentia ele perto de mim mas longe ao mesmo tempo. Um frio percorreu minha espinha.
Eu tinha tentando de tudo para entendê-lo. Ou mesmo para ficar longe dele. Mas nada que eu tinha feito estava dando certo.
Talvez eu devesse simplesmente ignorá-lo, como fiz todos aqueles anos. Mesmo que por dentro eu estivesse sofrendo, como sofri todos os anos em vê-lo na escola e fingir odiá-lo.
Porque, veja bem, eu já tinha desistido de ignorar que eu sempre amei Thur. Era a mais pura verdade.
- Onde você está indo, Judd? - Michele perguntou do banco da frente. Desviei os olhos dos meus tênis sujos e olhei em volta. Harry tinha passado da casa de Michele e ia em direção a dele.
- Eu vou levar o pessoal em casa primeiro. - então disse mais baixo, com a intenção de só Michele ouvir, falhando, porque eu ouvi tudo. - Quero te levar para um lugar.
Sorri por dentro e por fora.
Nem tudo estava perdido.
Ou estava. Quando Sophia contasse o que tinha feito. O que ela faria mais tarde aquela noite.
Estremeci.
Se o clima já estava estranho entre eu e Thur, imagina depois que ela contasse.
Merda.
Harry parou o carro na frente de sua casa e Micael pulou do carro, com Mel ao seu lado. Sophia desceu de mãos dadas com Chay e Thur desceu, me fitando.
- Hã, Harry? - chamei ele, sem mover um músculo do bando de couro branco. - Se importa de me levar para casa?
Eu não estava com o mínimo humor de ficar comendo pizza, falando merda e vendo Thur maravilhosamente perfeito na minha frente.
Não naquela noite.
- Tudo bem. - ele disse, já dando partida no carro. Mantive a cabeça baixa, mas antes de virar a esquina, olhei novamente para a casa dos meninos.
Thur estava parado no quintal, com as mãos no bolso da jeans dois números maiores que o que ele deveria usar, olhando para o céu.
Thur fala:
Entrei em casa desanimado, sentindo o cheiro do perfume da Lua nos meus ombros e cabelos. Minha roupa pesava no corpo e minha cabeça doía.
Mas não era só a cabeça que doía.
- Acho que eu vou dormir. - eu avisei o pessoal, subindo pela escada. As meninas me olharam com curiosidade e os meninos só deram de ombros.Chay estava louco para ficar sozinho com Sophia e Micael estava louco para finalmente ficar com Mel, o que seria meio difícil, devido a falta de atenção que Mel parecia ter. - Não quero estar parecendo um zumbi amanhã na escola.
- Ok, dude. - Micael disse.
- Boa noite, Thur! - as meninas falaram em couro.
- Boa noite. - repliquei e subi o resto das escadas. Entrei no meu quarto e fechei a porta. Tirei toda a roupa e liguei o aquecedor. Eu estava morrendo de frio, mas queria dormir de boxers para tentar esquecer Lua. Não ia tomar banho, estava cansado demais para isso.
Joguei-me na cama e adormeci imediatamente.
Não ouvi o que estava acontecendo lá embaixo, mas quando fiquei sabendo no outro dia, descobri porque meu coração estava tão apertado e batia freneticamente no quarto.
E não era só o meu.
Lua fala:
Passei a noite inteira me revirando na cama. Não conseguia dormir sabendo que Sophia estava na casa dos meninos e, possivelmente, contando a burrada que tinha feito a Chay.
Mas, acima de tudo, não conseguia dormir porque a visão de Thur falando o que tinha dito mais cedo não me saía da cabeça.
Quando finalmente o cansaço venceu os meus pensamentos contínuos, relaxei os músculos na cama, mas tive que os contrair alguns minutos depois, quando ouvi o despertador tocar.
Levantei-me imediatamente, cansada de tentar pensar em outra coisa. Precisava ir para a escola para saber o que tinha acontecido.
Quando coloquei meus Adidas brancos no pátio da escola, fui recebida por Michele, que voava em minha direção, com o fichário rosa colado ao corpo.
- Cadê os meninos? Você viu o Harry? Ah, não importa... Quer saber o que aconteceu ontem? - ela me abordou, os olhos brilhando e a respiração ofegante.
Eu não estava com humor de ouvi-la contar da melhor noite que tivera na vida. Toda aquela coisa de amor e pegação só ia me deixar mais deprimida.
Mas eu não podia deixá-la na mão. Porque, mesmo com todos os meus problemas, ela era minha amiga.
Então, ao invés de mandá-la tomar no cu e sair andando, respirei fundo, coloquei meu melhor sorriso no rosto e exclamei:
- Conta tudo!
- Então! - ela guinchou, me puxando pelo braço e sentando-se em um banco de madeira. - Harry deixou você em casa e depois me levou para o mirante. Ele não queria me dizer para onde iria me levar, mas eu nem liguei. A noite estava gostosa e o céu estava lindo, cheio de estrelas.
- E aí? - perguntei, como toda boa amiga faria.
Olhei em volta, varrendo o pátio com os olhos. Não achei quem procurava, então voltei minha atenção à história detalhada de Michele.
- Chegando lá, ele abaixou o capô do carro e me chamou para dançar. Eu não queria, porque eu meio que sou um desastre pra dançar lento, mas ele colocou All You Need Is Love e eu não agüentei! E ele dança tão bem que nem se importou com meus pisões e...
- O Harry dança bem? - perguntei, realmente curiosa. Aquela era nova.
- Pior que dança! - Michele gargalhou, tão surpresa como eu. Depois recomeçou. - E enquanto nós dançávamos, ele dizia coisas lindas no meu ouvido, e eu me arrepiava toda vez que ele chegava perto de mim.
- Tipo? - perguntei, agora interessada na conversa. Se não poderia ser feliz com o cara que eu gostava, pelo menos poderia ficar feliz pelas minhas amigas.
- Ah... - ela corou. - Tipo “Eu nunca fiquei tão feliz perto de alguém” e “Eu poderia ficar assim para sempre”.
- Ah! - exclamei, dando um cutucão nela para provocá-la. - Que lindo! E aí?
- Aí, quando a música acabou, nós voltamos para o carro e ficamos olhando as estrelas. Ele escolheu uma e deu meu nome, e eu escolhi outra, ao lado da minha, e coloquei o nome dele. - ela dizia, e seus olhos brilhavam. - Então, ele se aproximou e...
- E...? - perguntei, já sabendo o que ela iria dizer.
- Ele me beijou! - ela piou, e depois abriu o maior sorriso que eu já tinha visto ela dar.
- Ahhh! - agora eu a empurrava e bagunçava seus cabelos bem penteados, enquanto ela gargalhava.
- Nunca imaginei minhas amigas todas apaixonadinhas pelos losers! - eu disse, rindo.
- Quem disse que eu tô apaixonada? - ela perguntou, levantando a sobrancelha de um jeito engraçado.
- Seu sorriso diz tudo, baby. - eu respondi, piscando para ela.
- Olha lá, as meninas! - ela exclamou, saltando do banco e caminhando firmemente para as escadas do colégio.
Meu coração deu um salto no peito e minhas mãos começaram a suar. Levantei-me e dei de cara com Sophia, e meu coração deu outro salto ao ver que seu rosto estava vermelho e inchado.
- Sô, o que foi que aconte... - eu ia dizendo, mas foi interrompida por ela, que me abraçou e começou a soluçar no meu ombro. Eu passei as mãos pelos seus cabelos que mais pareciam um ninho enquanto Mel explicava o que tinha acontecido para Michele, que ouvia tudo com os olhos apertados, preocupada.
- E-ele... Terminou comigo! - Sophia desabou a chorar, se apertando no meu abraço.
- Não fica assim, Sô! - eu disse, afagando suas costas. - Tudo vai dar certo, ele vai te perdoar!
- Não, não vai! - ela exclamou. - Eu nunca mais vou ser feliz de novo! E eu estraguei a felicidade de vocês! Vocês também perderam seus losers!
- Nós não nos importamos com isso, Sophia. - eu murmurei, com a voz firme. Não me preocupei em ocultar o fato de que tinha me incluído na história.
- Hum, meninas. - Mel nos chamou. - Desculpe interromper, mas os Mc... Losers estão subindo as escadas.
Sophia se separou imediatamente de mim e passou as mangas do suéter de cashmere nos olhos, secando as lágrimas.
Chay vinha na frente, com a cabeça baixa e um sorriso triste no rosto. Era a cara de Chay. Mesmo triste estava sorrindo. Micael estava ao seu lado, olhando com o canto dos olhos para Chay, provavelmente preocupado com a reação do menino ao ver Sophia. Mas acho que Chay estava mais centrado do que... Bem, do que a própria Sophia, que lutava para segurar as lágrimas.
Atrás dos dois, vinha Harry, que tentava esconder o sorriso bobo ao olhar para Michele. Ela corou e desviou os olhos, com uma expressão vamos-fingir-que-nada-aconteceu-para-não-magoar-nossos-amigos-e-eu-te-pego-na-saída. E ao lado de Harry, Thur andava com as mãos no bolso, exatamente como eu o tinha visto no outro dia, olhando para cima.
Nós nos juntamos mais e tentamos olhar para outro lado, mas de um jeito ou de outro, nossos olhos se voltavam para os quatro meninos que subiam as escadas. Exatamente como todas as outras meninas do colégio.
Harry, Thur, Micael e Chay passaram por nós.
Do mesmo jeito que passavam por todas as outras meninas.
Thur diz:
Eu não achei que ignorá-las iria ser tão difícil. Mas, dude, foi pior do que eu pensei. Ver Lua ali, parada, ao lado de Sophia – que realmente parecia arrasada, mas não mais que Chay – e não poder me explicar, dizer que era verdade o que eu quis dizer no outro dia, abraçá-la e mostrar para todo mundo que ela era minha e só minha, foi muito foda.
- É só passar reto, dude. - Micael incentivou Chay, que estava com um péssimo humor, meio pálido. - Ela não te levou a sério e merece isso.
- Eu sabia, desde o começo... - ele murmurava, chutando o chão, parecendo uma criança mimada. - Ai, meu Deus, por que ela tem que ser tão hot? - ele perguntou, finalmente passando pelas meninas, que estavam unidas perto de um banco.
- Todas elas são. - Harry disse, sem tirar os olhos das pernas de Michele, que estavam a mostra em uma saia xadrez.
- Ânimo, Chay, hoje é um novo dia! - eu disse exageradamente, fazendo ele dar um semi sorriso.
A situação estava pior do que eu pensava.
As três primeiras aulas se arrastaram, até que finalmente o sinal tocou e eu dei um pulo da cadeira, me lembrando de onde estava. Harry já estava parado ao meu lado e conversava com uma de suas fiéis fãs. Olhei para ele malicioso e saí da sala sozinho. Chay e Micael estavam na diretoria por quebrar o lixo da sala.
Tão previsível.
Andei pelos corredores, parando para cumprimentar alguns amigos e amigas. Encontrei uma das meninas que era apaixonada por mim e meu humor melhorou um pouco.
Saindo do emaranhado de pessoas no corredor, fui até a biblioteca, sem antes esbarrar em John.
- E aí, veado! - ele exclamou, me dando um empurrão. - Algum babado hoje?
- Vai se foder, John. - eu disse, peitando ele. Nós éramos da mesma altura, mas ele definitivamente era mais forte.
- Eu vou me foder e foder sua garota. - ele disse, apontando para Lua, que passava com Sophia atrás de nós. Fechei meus olhos e respirei fundo. - O que foi, ficou bravo? Então ela é mesmo sua garota? Não sei como alguém pode ficar com um loser como você... Mas Lua sempre fora meio burra, não é?
Então, com um lampejo de força e raiva, eu virei um soco no seu nariz perfeito. Ele caiu para trás, se apoiando nas mãos.
À essa altura, todos em volta estavam parados em um círculo e cochichavam. Lua estava lá, mas ao invés de fofocar, me olhava com preocupação.
- Vocês viram isso?! - John exclamou, se levantando e sorrindo por cima do sangue que jorrava do seu nariz. - O nosso Thur aqui ficou bravo porque eu falei da sua amada Lua!
Os cochichos foram mais intensos e eu senti a mesma raiva que sentira alguns segundos antes me dominar. Respirei fundo mais uma vez.
- Cala boca, John. - sibilei, tentando não gritar aquilo.
- Cala boca, John! - ele repetiu, fazendo uma voz afeminada. - Queria saber qual seria sua reação se eu contasse a todos seus amigos que você...
- John! - Lua exclamou, cortando o que John ia falar. Todos viraram seus rostos para ela, que entrava no meio da roda com os cabelos longos jogados de qualquer jeito na cintura e uma beleza estonteante. Olhei para ela aliviado, mas ela me ignorou, e andou em direção a ele, com passos firmes. Finalmente me olhou, mas não como eu queria. Ela só me mediu de cima a baixo e disse para John, com sarcasmo na voz: - Sério, porque você ainda perde seu tempo com... - me olhou novamente, com nojo. - Ele?
John sorriu, o sangue parando de escorrer pela boca. Ela parou ao seu lado e foi envolvida por seus braços, sorrindo com desdém, mas seus olhos ainda mantinham o nojo. E desconfiei que não era por mim.
- Isso não vai ficar assim, Aguiar. - ele disse, me olhando com ódio, os braços apertando Lua. Segurei-me para não avançar nele novamente. Alguma coisa me dizia que se fizesse isso, o esforço de Lua seria em vão.
John se virou levando Lua pelo corredor. Eu os segui com os olhos e me virei, entrando na biblioteca como se nada tivesse acontecido.
Entrei no computador, digitei minha senha e certifiquei-me que não havia ninguém por perto. Entrei no nosso blog, onde a foto que Chay havia postado há uns dois atrás, de umas meninas do terceiro ano vomitando na rua ainda estava lá. Fechei a página com ódio, como se aquilo fosse ajudar em alguma coisa.
Aquele blog imbecil foi o que tinha me juntado a Lua, mas estava sendo o pivô da separação.
De repente, algo me atingiu a cabeça.
“Foda-se o blog!” eu pensei, caminhando rapidamente até o pátio. “Foda-se minha reputação. Se eu tiver Lua, nada disso importa!”.
Saí e coloquei as mãos no rosto num reflexo involuntário. O Sol brilhava alto e eu varri o pátio, em busca de Lua. Vi-a sentada sozinha, perto de uma árvore afastada das pessoas.
Era agora ou nunca.
Lua fala:
Quando finalmente consegui despistar John, não tinha mais ânimo para nada. Estava me sentindo mal por saber que Thur havia brigado com ele por mim, e mesmo assim eu não tinha coragem de dizer tudo o que sentia por ele.
Sentei-me na minha árvore preferida, onde eu sempre ia quando as coisas ficavam ruins.
Sophia provavelmente estava no banheiro chorando, Michele estava com Harry escondidos em algum lugar pela escola para tentar esconder o impossível. Ou talvez para não magoar Chay e Sophia. Mel estava conversando com algumas meninas do terceiro ano e Micael jogava futebol com os meninos do primeiro. Os dois fingiam se ignorar, mas as rápidas olhadas de um para o outro entregavam tudo.
Todos estavam, de algum jeito, escondendo o sentimento.
É, nossas vidas haviam mudado tanto em tão pouco tempo.
Antes de alguns meses, nós provavelmente estaríamos sentadas juntas, rindo dos meninos que corriam atrás de nós e xingando os McLosers e todos os outros do colégio.
E veja só onde estávamos agora.
Todos se escondendo de algum jeito. E eu sentada na árvore da tristeza pensando no ser mais desprezível e irresistível do mundo.
- Hey. - ouvi alguém dizer atrás de mim. Virei-me e me senti meio tonta ao dar de cara com Thur, que já se sentava ao meu lado. Olhei em volta, procurando John, mas provavelmente ele estava com alguma menina, longe do nosso alcance. - Não se preocupe, se John aparecer vai receber outra surra. - ele disse, adivinhando meus pensamentos.
- Ótimo, se eu não tiver que abraçá-lo novamente. - eu disse, puxando as magas do meu cardigan preto e escondendo minhas unhas ruídas. Unhas nunca foram meu forte.
- Pode deixar, isso não vai acontecer. - ele sorriu, se apoiando nos cotovelos e olhando para o Sol. Repeti seu gesto e encostei meu ombro no seu. - Escuta, Lua, sobre hoje...
- Não precisa se explicar. - eu disse, jogando meus cabelos para trás, que caíram em uma cascata nas minha costas. O Sol bateu nas minhas clavículas e eu me senti bem novamente. Não só pelo Sol, mas por ter Thur ao meu lado.
- Mas eu quero. - ele resmungou, ficando sério. Olhei para ele e assenti com a cabeça, para ele continuar. - Sobre ontem. Sobre hoje.
- O que tem ontem?
- Quando eu disse que estávamos juntos eu... - ele parou, envergonhado. - Eu realmente pensava que estávamos juntos.
- Então porque fez daquilo uma piada logo depois? - perguntei, olhando para ele com o canto dos olhos. - Porque eu não quero me enganar em relação a você!
- Porque eu pensei que não fosse o que você queria. - ele disse, olhando para os tênis.
- É o que eu mais quero. - me ouvi dizendo. Ele sorriu, os cabelos caindo nos olhos. - E você?
- Eu nunca quis tanto algo na vida. - ele respondeu. E depois de demorar o olhar nos meus olhos, me deixando tonta, ele continuou: - E sobre hoje.
- Sobre hoje. - eu repeti. - Sobre o que quer falar? A burrada de Sô ou a briga?
- Lua, aquele blog não muda em nada. Não me importo se a escola inteira ficar sabendo. A única coisa que eu quero é te fazer feliz e ser feliz ao seu lado! Mas Chay... - ele disse, abaixando a voz. - Chay está realmente magoado.
- Sophia está realmente arrependida. - eu disse, triste por minha amiga.
- Chay e Micael são os mais cabeças duras. Vai ser difícil de perdoar. - ele disse, se perdendo nas pessoas que andavam pelo pátio, com o olhar vago. - Sempre pensei que eu fosse o mais orgulhoso. Mas acho que nenhum orgulho do mundo vai me manter longe de você.
- Thur? - eu sussurrei. Ele se virou e me encarou. Eu perguntei: - Você realmente brigou com John por mim?
Ele demorou um pouco a responder, me analisando. Mas enfim, respondeu:
- Sim.
Sorri e voltei a puxar as magas do meu cardigan, envergonhada.
- Lua, será que você ainda não entendeu? - ele perguntou, depois de um longo silêncio. - Eu te amo! Eu... - seu rosto corou e ele olhou novamente para o céu. - Eu sempre te amei.
Sentei-me ereta e olhei em seus olhos, que novamente me encaravam, embora o rosto ainda estivesse muito vermelho. Seus olhos estavam tristes, porém decididos.
Eu poderia ter feito milhões de coisas. Poderia ter dito para ele ir embora. Ou talvez dizer que ele estava enganado. Quem sabe ficar em silêncio até que ele fosse embora e me deixasse sozinha?
Mas a única coisa que eu consegui fazer – porque foi o que me pareceu correto – foi sorrir e dizer, quase sussurrando:
- Eu também te amo.
Ele sorriu e aproximou seu rosto do meu. Eu fechei meus olhos e respirei seu hálito doce por alguns momentos. Então senti seus lábios sobre os meus. Durou alguns segundos, e ele os retirou. Abri meus olhos, curiosa.
- Não quero fazer isso na frente de todo mundo. - ele disse, apontando com a cabeça para o pátio. Ninguém nos olhava, preocupados com a própria vida, mas tenho certeza que se ficássemos ali nos beijando por muito tempo alguém iria perceber e seria tarde demais. - E não quero deixar Chay pior do que ele já está.
- Eu não quero magoar Sophia. - eu murmurei. - E não quero que todos se metam na nossa vida.
- Eu não quero ficar longe de você. - ele disse, roçando seu nariz no meu, mas logo se separando. - Eu quero você pra sempre.
- Eu vou ser sua pra sempre. - eu respondi, sentindo seu cheiro.
Às vezes a vida podia ser boa.
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