Capítulo 9 – Verdade ou desafio?
Thur fala:
- Porra, não pára de chover! – Chay resmungou, mexendo as pernas, ansioso.
- É, e não tem nada pra fazer... – Sophia concordou, afundando no sofá ao lado de Chay, que colocou a mão discretamente ao lado da dela.
- Ainda tem duas garrafas de Tequila e quatro de Vodca. – Micael nos lembrou.
Nos entreolhamos, com olhares marotos no rosto.
- Fui! – Harry exclamou, sumindo pela porta da cozinha.
- Desse jeito eu vou entrar em coma alcoólico! – Mariana exclamou, batendo com as mãos na barriga. – Ou fazer alguma besteira...
Lua deu uma risadinha.
- Tudo bem, o Harry não se importa. – eu brinquei, mas logo completei, quando todos me olhavam curiosos: - Com o negócio de fazer besteira, claro.
- Certo! – Harry gritou, chegando na sala novamente, com o resto mínimo de Tequila do dia anterior, uma garrafa cheia e outra cheia de Vodca. – Vamos fazer o quê?
- Sueca! – Melanie exclamou, olhando para Micael, que fez uma careta engraçada.
- De novo não... – todos resmungaram.
- Ok, que tal porco? – Lua sugeriu, sentando ao meu lado. Nossos ombros se tocaram e eu senti uma eletricidade maluca passar por mim.
- Não, eu tenho uma melhor. – eu respondi, de repente me lembrando das festas de quinta série, onde o sonho de consumo de todos os meninos era beijar Melanie, Sophia, Mariana e Lua no verdade ou desafio. – Verdade ou desafio!
- Boa! – eles gostaram.
- Um shot antes de cada rodada? – sugeriu Chay.
Todos assentiram, se arrumando em uma roda.
Fiquei ao lado de Mariana e Lua, que por sua vez estava ao lado de Chay. Sophia se sentou ao lado dele e Micael sentou-se ao lado da menina. Melanie ficou entre Micael e Harry, que puxou Mariana para mais perto. Fechamos o círculo.
- Mas vale tudo? – Micael perguntou, olhando apreensivo para Melanie. – Tipo, ninguém é de ninguém.
Nos entreolhamos. Já sabíamos que queríamos. Mas o primeiro a se pronunciar foi Harry:
- Se alguém ficar de gracinha pra cima da minha Mari morre.
Rimos.
Melanie começou rodando a garrafa vazia – depois de Chay a matar – de Tequila. Chay pergunta para Harry.
- Desafio! – Harry disse, antes mesmo de ouvir a pergunta.
- Desafio você a ficar com a Luinha. – Chay disse, dando uma risada discreta.
Ao escutar aquilo, meu coração se apertou e eu senti que poderia vomitar todas as minhas tripas ali mesmo.
O Harry. Com a MINHA Luinha?
- Ok, vamos lá! – Harry disse, entusiasmado.
E quem não ficaria?
Olhei para Mariana e pude ver em seus olhos que ela estava sentindo a mesma coisa que eu. Os olhos perfuravam Harry com ódio mas ao mesmo tempo amor, e sua mão encontrava-se no estômago, como se ela fosse vomitar.
Sabia que aquilo seria uma péssima idéia.
Ninguém é de ninguém, certo?
Errado.
Harry se sentou ao lado de Lua e eles ficaram se encarando, tentando parar de rir durante um bom tempo, até que Micael interrompeu, irritado:
- Vamos logo com isso, eu quero continuar a brincadeira!
Harry passou as mãos por debaixo dos cabelos de Lua. Ela colocou a mão pequena na sua nuca – como ela costumava fazer comigo – e aproximou as duas bocas. Enfim, Harry a beijou.
Mariana ficou estática e eu me remexi desconfortável.
Tudo bem, era só uma brincadeira.
Uma brincadeira IMBECIL, que EU tinha sugerido. Mas ainda assim, era uma brincadeira...
Não era?
- Já deu né? – eu exclamei ao mesmo tempo que Mariana. Chay passou a mão pelo beijo e os dois se separaram, rindo. Micael olhou para mim desconfiado e eu completei: - Eu quero jogar também.
Acho que ele engoliu aquela.
Harry – com um sorriso odioso no rosto – encheu os copos de shots e nós tomamos de novo.
Lua pegou a garrafa vazia e rodou. Sophia perguntava para Mariana.
- Verdade ou desafio?
- Desafio.
- Então... – ela começou, percebendo meu olhar vingativo e o olhar malicioso de Mariana. – Eu quero que você beije o guitarrista das mãos hábeis.
Todos nós gargalhamos.
Lua olhou torto para mim e a satisfação tomou conta do meu ser.
Ah, a doce vingança.
Eu troquei de lugar com Harry – que me olhou com raiva – e me sentei ao lado de Mariana, que não conseguia esconder o sorriso diabólico. E ela estava mesmo a a fim de provocar, porque antes de me beijar subiu no meu colo e enfiou as duas mãos nos meus cabelos, os colocando para trás. E depois encaixou seus lábios doces nos meus.
O beijo dela era bom. Muito bom. Mas ela não era Lua.
Ninguém era.
Envolvi minhas mãos seguramente em seus cabelos, longe de sua cintura. Aquilo seria demais para Harry.
- Time’s over! – Melanie exclamou, batendo nos ombros de Mariana, que desceu do meu colo rindo, exatamente como Lua fizera.
- Vira! – Chay exclamou, e viramos novamente.
Melanie já estava alegre e Sophia fechava os olhos de vez em quando.
E era por isso que eu adorava a Tequila.
Melanie rodou a garrafa. Mariana perguntava para Sophia.
- Verdade. – ela deu de ombros.
- É verdade que você sempre achou o Suede gato, mesmo antes de vocês ficarem? – Mariana perguntou, lançando um olhar sugestido para Chay.
Sophia corou.
Admitir aquilo iria matá-la. E iria fazer com que ela quisesse matar a Mariana, mas isso já é outra história...
- Hum... Eu... – ela murmurou, desviando o olhar de Chay, sem muito sucesso. Então acho que ela se enxeu de todo aquele teatrinho me-poupe-dessa-gentalha – assim como eu já estava de saco cheio faz tempo – e exclamou, largando os braços pelo corpo: - Ah, é verdade mesmo, satisfeitos?
Chay sorriu maliciosamente ao seu lado e mordeu os lábios sugestivamente.
- ÓTIMO! – ela berrou, virando os olhos de um jeito engraçado. – Agora a bosta do Suede vai ficar se achando pra sempre!
Chay se inclinou para ela e passou os braços por seus ombros rígidos. Mordeu sua orelha de brincadeira e disse:
- Eu sempre me achei gata!
Todos nós rimos, não sei se por achar graça no comentário ou porque a bebida estava subindo direto e reto. E ficamos rindo por um bom tempo, até recomeçar a brincadeira.
Ela continuou pela tarde inteira. Nós nem vimos a manhã ir embora, emendando com a tarde. Só sei que quando eu percebi, o céu estava de um azul marinho e as nuvens se carregavam cada vez mais.
Durante o dia aconteceram coisas bizarras pelo efeito da bebedeira.
Só pra você ter uma noção, Mariana lambeu o pescoço de Micael até chegar na sua barriga, com chocolate na língua; beijou as coxas de Chay, que não conseguia parar de rir e beijou Harry de ponta cabeça.
Sophia comeu metade de uma melancia com Harry – sem as mãos, só com a cabeça enfiada na melancia – e depois teve que beijá-lo com cara toda nojenta; mordeu todo o rosto de Chay e teve que me dar 30 selinhos seguidos enquanto pulava.
Melanie dançou até o chão comigo; beijou Chay de olhos abertos; lambeu as orelhas de Harry – que saiu meio tonto depois dessa – e teve que beijar Micael girando – nem me pergunte como.
Lua teve que beijar Micael sem a língua; morder a boca de Chay até ele gritar “PÁRA!” – o que ele demorou considerávelmente para fazer – e teve que me beijar sem encostar nenhuma parte do corpo em mim além da boca.
As brincadeiras foram se esgotando e o dia foi acabando. De noite já estávamos totalmente sóbrios e com a tempestade que caía lá fora, um pouco românticos.
- Verdade. – Lua pediu para Melanie.
- É verdade que... – ela começou, olhando em volta para achar alguma coisa bem constrangedora para jogar em cima de Lua. De repente, seus olhos caíram sobre mim e ela sorriu, com más intenções. – Que você gostou de ficar com o Aguiar ontem?
Lua fala:
Melanie sabia mesmo como ferrar os outros. Porque pela primeira vez em muito tempo, eu não sabia o que fazer, o que falar. Pelo menos eu não sabia o que fazer o que falar para enganar meus amigos do que eu realmente estava sentindo.
Esfreguei minhas mãos depois de sua pergunta, como se aquilo pudesse me ajudar de alguma maneira. Sentia todos os olhares focalizados em mim, e minha respiração falhou.
O que fazer numa hora dessas?
Seguir o coração e dizer que sim, o Aguiar era O cara e que eu estava apaixonada por ele, ou simplesmente enganar a todos e me enganar por tabela?
Olhei em volta, eles ainda esperando uma resposta. Eram meus amigos, meus melhores amigos. Elas antigas, eles novos. Mas eu amava todos do mesmo jeito.
O que fazer?
E foi então que meu olhar se encontrou com o dele.
Com o motivo das minhas noites mal dormidas. Com o menino pelo qual eu suspirava sem parar. Com ele que tinha a voz mais linda do mundo e o sorriso mais encantandor.
Thur.
E ele sorriu para mim, mas dentro dos seus olhos ele me fitava triste, e talvez cansando de esconder o que nós tínhamos.
E, pela primeira vez em muito tempo, eu soube o que dizer para todos. A coisa certa a se dizer. Pois eu não estaria me enganando nem enganando ninguém.
E foi por isso que eu respondi, ainda olhando para seu sorriso hipnotizador:
- Muito.
Olhei em volta, envergonhada. As meninas somente abafaram risinhos e os meninos levantaram a sobrancelha. Mas naquele momento meus amigos não me importavam muito.
Virei meu rosto vagarosamente e fitei Thur. E meu coração deu um pulo no peito quando percebi que ele estava feliz verdadeiramente.
- Bom, sintam-se à vontade se quiserem, sabe como é, repetir a dose. – Harry nos provocou, piscando para Thur, que corou.
- Também não exagera, não é, Judd!? – eu brinquei, e Thur soltou o ar.
Pelo menos tínhamos nos safado daquela.
- Vai, girando a garrafa! – mandei, sentindo minhas orelhas queimarem.
Thur se inclinou do meu lado, roçando seu braço no meu e seu perfume invadiu meu nariz, subindo diretamente para meu cérebro. Fechei os olhos por um instante, tentando guardar aquilo na lembrança.
A garrafa caiu em Mariana.
- Desafio. – ela me olhou suplicante.
Olhei para Harry, que a abraçava com carinha e afagava seus braços nus e acho que nem cheguei a pensar em outra coisa.
- Desafio que você e o Harry sumam daqui porque o casal já está me deixando enjoada!
Harry sorriu surpreso para mim, mostrando os caninos. Mariana suspirou aliviada.
Finalmente a sós.
Ele se levantou e a ajudou a se levantar, e os dois sumiram escada acima, dando risada e zoando um com o outro. Chegando no quarto das meninas, trancaram a porta e nós não ouvimos mais nada por um bom tempo.
E olha que nós ficamos em silêncio para tentar ouvir.
- Ah! O amor é lindo! – Melanie suspirou, também sendo abraçada por Micael.
Ele sussurrou alguma coisa no ouvido dela enquanto eu, Sophia, Thur e Chay discutíamos algo de quem iria fazer o almoço no outro dia – nem ferrando comeríamos a comida de Micael novamente – e ela riu baixinho.
- Ok, vocês podem subir também. – eu disse, vendo os olhos sussurrando, excluídos da conversa. – Odeio casais! Ah! – gritei, jogando uma almofada neles, que riram e sumiram pelas escadas, assim como Harry e Mariana. Chegando lá em cima, entraram no quarto dos meninos e trancaram a porta, e nós não ouvimos mais nada.
O andar de cima estava em silêncio total.
Nos entreolhamos.
- Eles ficam fofos juntos... – Sophia comentou.
- É, e eu dou dois dias para a escola inteira estar falando que Mariana e Melanie estão grávidas. – eu completei, e nós quatro caímos na risada. - Por falar nisso, como vai o blog?
Thur virou os olhos e Chay se aprumou no chão, arrumando a postura. Sophia sorriu para o garoto todo se achando.
- Vai bem. Pelo menos até agora o veado do John não contou nada para niguém. Espero que continue assim.
- E qual foi a última coisa que vocês postaram? – perguntei.
- Postei antes de vir. – Thur virou os olhos de novo e suspirou. – Umas fotos dos meninos do primeiro ano pichando o carro do diretor. Genial!
- Legal. – Sophia disse, meio desconfotável com o assunto. E devia ser mesmo meio estranho conversar com o cara que gostava sobre o assunto pelo o qual terminaram.
Bem estranho.
Abaixei minha cabeça, pressentindo o que vinha a seguir. Thur fez o mesmo, e nossos cabelos cubriram nossos rostos espiões. Thur sorriu mostrando todos os dentes para mim, feito um leão, e eu ri baixinho.
- Hum. – Chay pigarreou. – Porque os dois autistas abaixaram a cabeça?
- Cala boca, Suede. – eu disse, chacoalhando os cabelos. – Eu fiz isso porque deu vontade, e como o Aguiar não pode viver sem encher meu saco, fez igual.
- Claro, meu sonho era abaixar a cabeça junto com a Blanco. – ele ironizou, e Chay gargalhou. Sophia permaneceu séria, e me lançou um olhar de súplica, que eu rebati para Thur, que parou de rir na hora.
Ficamos um bom tempo em silêncio. Até que Chay finalmente resolveu agir.
- Você quer, sei lá, ir lá fora? – ele perguntou para Sophia. Eu não conseguia ver nada com todo meu cabelo jogado na nuca, mas podia ouvir muito bem, e eu sabia que pela voz de Sophia, ela estava ansiosa por aquele momento, mas não sairia dali sem fazer um doce.
- Nessa chuva? – ela sussurrou de volta. Eu e Thur estávamos tão quietos que acho que os dois esqueceram da nossa presença.
- A gente fica na sala de ginástica. – ele respondeu. A sala de ginástica ficava do lado da piscina, mas nunca fora usada realmente para ginástica. Na verdade, era um quarto com cama e Tv. E ar-condicionado.
- Ok. – ela concordou, e eu nem pude contar até 5 que eu e Thur estávamos sozinhos na sala.
- E aí, o que você quer fazer na pior tempestade do ano? – ele perguntou, esfregando seu nariz no meu e colocando uma mecha do meu cabelo atrás de minha orelha. Respirei fundo, depois de sentir seu toque suave em mim, como se fosse a primeira vez que realmente respirava no dia.
- Primeiro, sair desse chão frio. – respondi, me levantando de qualquer jeito. Ele se levantou em seguida e ficou ao meu lado, como se esperasse por uma ordem minha. – E agora me enrolar nos cobertores.
A próxima coisa que eu senti foi seu peito embaixo de mim, respirando profundamente. Minhas mãos estavam aninhadas no seu pescoço e ele me segurava pela cintura, encostando sua bochecha no topo da minha cabeça. O cobertor vinha até meu pescoço e nós tomávamos leite com Nescau na taça de chapagne.
- Como esse cara não percebeu que a garota dele estava cuspindo sangue até morrer? – ele perguntou, incrédulo. Assistíamos Moulin Rouge na Tv e ele comentava alguma coisa do filme de 5 em 5 segundos, como aqueles amigos chatos que nunca te deixam assistir o filme. Mas como ele era fofo, porque ele realmente não estava entendendo o filme e fazia umas caras de perdido muito fofas.
- Você acha mesmo que ele iria perceber que ela estava morrendo com todos os outros problemas que ele tinha que resolver? – perguntei, fazendo ele concordar com a cabeça.
- Eu perceberia se você estivesse com gripe, que dirá com tuberculose! – falou sério, passando os dedos por meu rosto.
- Atchim! – brinquei, e nós dois rimos.
Ah, piadinhas internas...
Assistimos mais um pouco, mas Thur estava ficando ansioso demais para assistir um musical tão gay quanto Moulin Rouge. Então me deixei levar por seu toque quente em meu rosto, e inclinei minha boca para a dele, que se encostou com leveza e ao mesmo tempo vontade na minha, e com os lábios nos meus, sussurrou:
- Se alguma coisa acontecesse com você eu nem sei o que eu faria.
- Não vai acontecer nada comigo. Não enquanto eu estiver com você. – respondi, separando nossas bocas e dando um beijo na ponta do seu nariz.
- Eu não vou deixar. – ele murmurou, logo depois beijando minha boca.
Seus lábios guiavam os meus devagar e seu gosto impregnava minha boca. Suas mãos deslizavam docilmente em minha cintura e nossos corpos se ligavam como um só. Envolvi minhas mãos nos seus cabelos desgrenhados e o senti estremecer. Ele apertou minha cintura com força e ouvimos um estalo.
Abri meus olhos.
A casa todo estava no maior breu. A Tv estava apagada e a luz da cozinha – antes acesa – apagou também.
- O que aconteceu? – ele perguntou, tateando meu rosto com as mãos. Gemi. Eu morria de medo do escuro.
É. Gay demais. Eu sei.
- Luinha, linda, você está bem? – ele perguntou novamente, mas dessa vez a ansiedade dominou sua voz.
- N-não! – gaguejei, me apertando mais nele. – Eu morro de medo do escuro!
Thur abafou uma risada e eu fechei meus olhos, afundando minha cabeça no seu peito.
- É sério!
- Eu sei que é sério. – ele sussurrou. – Só achei graça que uma mulher desse tamanho tenha medo do escuro!
- Vai se ferrar, Thur! – eu resmunguei, batendo nele de leve, pois não tinha forças para bater mais forte. E acho que ele percebeu que eu estava realmente apavorada, porque segurou meu braço e foi beijando todo ele, até chegar no meu pescoço, me fazendo esquecer um pouco do negócio do escurto.
Mas só um pouco.
- Luinha, eu estou aqui.
- Ah, ótimo... – falei, nervosa. Ele riu e me abraçou apertado, me protegendo.
Ficamos um tempo em silêncio. Mas eu não aguentei ficar ouvindo o som das ilusões da minha cabeça, e logo murmurei:
- Thur?
- Luinha?
- Canta pra mim? – pedi baixinho, ainda afundada em seu peito que subia e descia vagarosamente.
Thur se arrumou no sofá e me apertou no seu peito. Pigarreou.
- Hey, I'm looking up for my star girl! I guess I'm stuck in this mad world, the things that I wanna say... (Hey, eu estou procurando minha garota estrela! Eu acho que estou preso nesse mundo maluco, com coisas que eu quero dizer...) – ele cantou no meu ouvido, e eu senti meu corpo amolecer aos poucos. Minhas mãos afrouxaram um pouco na sua nuca e escorregaram para seus ombros. Eles já haviam tocado aquela música no ensaio, mas como só a voz de Thur parecia outra música. – But you're a million miles away! And I was afraid when you kissed me, on your intergalactical frisbee! I wonder why, I wonder why, you never asked me to stay! (Mas você está a milhões de quilômetros de distância! E eu estava com medo quando você me beijou, no nosso Frisbee intergaláctico! Eu me pergunto porquê, eu me pergunto porquê, você nunca me pediu para ficar!)
- Espera! – exclamei, e ele parou bem na hora do “uuu!” e ficou em silêncio. Expliquei: - Essa eu já ouvi. Canta outra?
- Claro, como se eu escrevesse uma música a cada segundo.
- Por favor. – choraminguei.
Ele suspirou, fingindo estar com raiva.
- Ok, mas ela é nova, então não ria!
- Não vou.
- It's all about you, it's all about you baby! It's all about you, it's all about you... (É tudo sobre você, é tudo sobre você, baby! É tudo sobre você, é tudo sobre você!) – ele começou, e eu deixei minha cabeça pesar no seu peito, de tão tonta que a voz dele me deixava. - Yesterday you asked me something I thought you knew! So I told you, with a smile, it's all about you! Then you whispered in my ear and you told me too! Said you make my life worthwhile, it's all about you! (Ontem você me perguntou Algo que pensei que você sabia! Então te disse, com um sorriso, "É tudo sobre você"! Então você sussurrou em meu ouvido, e me disse também. Disse: "Você faz minha vida valer à pena, é tudo sobre você!")
Sorri sozinha. Percebi porque ele não queria cantar a música.
Ele a escreveu pensando em nós.
- And I would answer all your wishes, if you asked me too! But if you deny me one of your kisses, don't know what I'd do... (E eu realizaria todos os seus desejos, se você me pedisse! Mas se você me negasse um dos seus beijos, não sei o que eu faria!) – ele afagava meus cabelos e cantava baixinho, tentando me acalmar. E estava dando certo. – So hold me close and say three words like you used to do... Dancing on the kitchen tiles, it's all about you! (Então me abrace forte e diga três palavras como você costumava fazer! Dançando nos azulejos da cozinha, é tudo sobre você!).
Thur repetiu a música, ainda no meu ouvido, e quando acabou eu nunca estivera tão calma em toda minha vida.
Ele se inclinou e beijou meus lábios. A chuva ainda caía espessa lá fora e a luz ainda não havia voltado. Retribuí seu beijo com leveza e ele se separou de mim. E, mesmo não vendo nada, senti que ele olhava no fundo dos meus olhos. Então, sussurrou:
- It’s all about you, Luinha.
Passei minhas mãos em seu rosto quente e respondi:
- It’s all about us, Thur.
E antes que eu pudesse impedir, adormeci.
Thur fala:
Eu tinha prometido para mim mesmo que não adormeceria. Eu não podia dormir. Tinha que aproveitar aquilo até o último suspiro.
Lutei com o sono e com a posição agrádavel, com a garota dos meus sonhos nos braços, até o último momento, mas não fui forte o suficiente. Eu dormi com ela, quente, grudada em mim, e nem sonhei, pois meu sonho estava dormindo comigo.
Acordei com o Sol batendo no meu rosto. Abri os olhos com cuidado, evitando olhar diretamente para os raios solares, e senti o perfume dela invadir todos os meus sentidos. Olhei para baixo e ela estava adormecida do mesmo jeito que no dia anterior, apenas com os cabelos mais desgrenhados. Ela respirava profundamente e mantinha um leve sorriso no rosto, como se estivesse sonhando.
Mordi meus lábios com força, para ter certeza que não estava sonhando.
E doeu pra porra.
É, não era um sonho.
Levantei-me do sofá devagar, segurando sua cabeça para não tombar. Depois a apoiei no encosto do sofá e saltei em silêncio para a cozinha.
Fiquei uns 15 minutos lá dentro, batalhando com a minha falta de coordenação em qualquer coisa que envolva comida, mas quando sai com uma bandeja com MilkShake de chocolate, panquecas com calda de caramelo de salada de frutos com leite condensado, senti orgulho de mim mesmo.
Cheguei na sala e Lua continuava desmaiada, como um anjo. Olhei para a bandeja e ela ainda não estava boa o suficiente. Então furtei uma rosa vermelha de um vaso prata do meu tio e coloquei entre o prato e o copo.
Perfeito.
Lua se mexeu um pouco e colocou a pequena mão embaixo da bochecha. Os raios de sol batiam em seus cabelos, que brilhavam mais que o normal.
Eu a amava.
Eu não conseguiria mais viver sem ela.
Sentei-me ao seu lado e apoiei sua cabeça no meu colo.
- Bom dia, gata! – sussurrei no seu ouvido e ela abriu os olhos lentamente. Piscou os cílios algumas vezes e, ao ver a baneja de café da manhã ao meu lado, sorriu para mim.
- Bom dia, Thur! Tudo isso pra mim?
- Tudo, mas se você não quiser eu posso comer. – brinquei, e ela levantou levemente a sobrancelha.
- Claro que eu quero! Mas se eu morrer volto pra puxar seu pé!
- Há há, hilária!
Ela deu um gole no MilkShake e sorriu.
- Bom!
- E aí, dormiu bem? – perguntei, enquanto ela cortava as panquecas.
- Sim, sim. A cama não era muito boa, mas... – ela brincou, enfiando um pedaço de panqueca na boca. Eu dei um peteleco no seu nariz e respondi:
- Pra sua informação, muitas matariam por essa cama.
- Que mal gosto... – ela continuou, e eu ri.
Lua acabou de comer – entre uma risada e outra – e eu coloquei a bandeja em cima da mesa de centro, segurando um bombom que tinha deixado por último nas mãos. Ela veio para pegar e eu levantei o braço. Ela tentou de todos os jeitos pegar e não conseguiu, até que subiu em cima de mim e conseguiu pegar. Quando abriu o bombom, eu o roubei de sua mão e coloquei na boca.
- Ah seu safado! – ela exclamou, me beijando para ver se conseguia tirar o bombom da minha vida. Entrelaçou sua perna na minha cintura e segurou meus braços atrás da minha cabeça. Finalmente, pegou o bombom de volta e o mastigou feliz.
- Não me provoca assim não! – brinquei, apontando com a cabeça para a nossa posição. Ela olhou junto e gargalhou, passando a mãos pelos meus cabelos e os jogando para trás. De repente, ficou séria, me analisando.
Resolvi fazer o mesmo e analisei aqueles olhos expressivos, boca provocativa e nariz perfeito. Nós dois ficamos sérios e parecia que podíamos ler o pensamento um do outro.
- O que vai acontecer com a gente quando descobrirem? – ela cortou o silêncio, afastando um pouco o rosto do meu. Respirei fundo para não me esquecer daquele momento, e respondi, fechando os olhos:
- Estou tão perdido quanto você.
Mative meus olhos fechados e a respiração aguçada, para sempre lembrar daquele momento.
De algum jeito, eu sabia que o fim estava próximo.
Lua se aproximou mais uma vez, dessa vez sem cautela nenhuma, me fazendo perder o ar. Beijou-me com força e soltou meus cabelos, pousando sua mão no meu peito.
Percebi que com o passar do tempo o clima ia esquentando. Ela passou as mãos pelos meus cabelos novamente e puxou, fazendo eu me arrepiar com seu toque. Desci um pouco minha mão e parei na barra da sua blusa, passando os dedos de leve em sua barriga, fazendo-a suspirar, e quando estava prestes a tirá-la, ouvi suas risadas abafadas.
Abri meus olhos rapidamente e me deparei com Micael e Melanie na base da escada, nos olhando incrédulos.
Lua continuava a me beijar com vontade, e eu tive que apertar sua cintura para que ela percebesse que algo estava errado. Passou a mão pelos cabelos, tirando-os da minha cara, e Micael viu que eu já os percebera ali.
E ele simplesmente sorriu para mim.
- O que foi? – ela murmurou no meu ouvido, e se aquela situação não fosse tão constrangedora, eu a agarraria ali mesmo.
- Hum... – tentei achar um jeito mais delicado de dizer o que estava acontecendo, mas não tive muito progresso, então somente respondi: - Micael e Melanie parados na escada.
- Ai merda. – ela exclamou, arregalando os olhos. Tirou as pernas de volta da minha cintura rapidamente e caiu com um baque oco no sofá. Sem levantar os olhos, ela murmurou:
- Oi, Mel. Oi, Micael.
- Oi, Luinha! – Micael exclamou, como se nada estivesse acontecendo. Melanie olhou para mim e depois os cabelos de Luinha, e foi mais sensível.
- Vamos para a cozinha pegar o que íamos pegar, Micael.
Os dois desapareceram pela cozinha e Lua levantou o rosto pela primeira vez, completamente vermelha.
- Luinha, desculpa, eu... – comecei a dizer, mas fui interrompido.
- Tudo bem, Thur. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde eles iriam descobrir.
- Você não está cheteada? – perguntei, fitando seus olhos, agora sem expressão nenhuma.
- Não. Eu só estou com... – e uma tristeza inexplicável se apossou dos seus olhos e eu senti vontade de abraçá-la e dizer que tudo iria ficar bem. Mas não pude. Eu fui covarde demais. Quem sabe se eu a abraçasse naquele exato momento, prometido para ela que nada poderia nos separar, nós teríamos evitado tudo que teríamos que passar... – Medo.
- Luinha, são nossos amigos! Eles não vão fazer nada! – exclamei, ficando meio impaciente com todo aquele esconde-esconde.
- Eu sei, Thur, mas isso vai se espalhar de um jeito ou de outro.
- Linda, eu não vou deixar que nada nos separe! Nós já demoramos muito para ficarmos juntos, eu não posso te perder por motivos insignificantes!
- Thur... – ela suspirou, um pouco mais alegre. – Eu vou te amar pra sempre, não importa o que aconteça!
Embora eu tenha achado o que ela disse um pouco forte demais, como uma despedida, respondi com o meu coração:
- Claro!
E beijei sua testa.
Se eu soubesse que depois daquilo tudo ficaria péssimo, não teria beijado sua testa, e sim sua boca. E não teria dito “claro”, teria dito “pra sempre!”.
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